quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Rezas inúteis

Eu adoro ver pessoas a rezar. É realmente algo de útil que fazem pelo mundo. E, sem dúvida, as rezas mais úteis são aquelas que vêm logo a seguir a grandes cataclismos. E partilho da ideia da Igreja de que é necessário rezar pelas vítimas de grandes cataclismos como o terramoto do Haiti ou o maremoto da Tailândia.
Eu prefiro raciocinar a rezar. Um grupo de reflexão é sempre mais interessante que um grupo de fiéis a rezar. Neste artigo pretendo criar com os leitores um grupo de reflexão sobre a validade das rezas após os cataclismos. Qual a razão que nos leva a rezar? O que se pretende obter com isso? Porque rezar pelas vitimas? E quem são as vitimas?
Focando-nos na reza. Recentemente no Haiti deu-se um terramoto que matou mais de 2 centenas de milhares de pessoas. Outras centenas de milhares, encontram-se privados de comida, água potável, cuidados de saúde, alojamento e segurança. Literalmente é o inferno na Terra. E o que fazemos nós, inúteis e ricos ocidentais? Rezamos. É sempre bom.
Será que as nossas rezas vão diminuir o sofrimento daquele povo? Por eu rezar um pai nosso vão deixar de morrer crianças em África? Se as minhas rezas anteriores não preveniram o cataclismo quem me garante que as rezas actuais vão agora ajudar as suas vitimas? E de que me vale rezar a um Deus pelas vítimas de um cataclismo que ele nem sequer quis evitar? Algumas pessoas podem dizer que não é função Dele intervir neste tipo de problemas. Mas se Ele não intervêm para que é que rezamos?
Se calhar nem rezamos pelos vivos mas sim pelos mortos. Faz-me um pouco de confusão rezar pelos mortos. Mais não seja porque já morreram. Não vão passar fome, não vão sentir frio, não vão sentir dor. Os crentes rapidamente contestam estas verdades com as suas crenças numa vida depois da morte, com a existência de céu, do inferno, do limbo e do purgatório.
Com o cataclismo do Haiti e da Ásia morreram centenas de milhar de pessoas. Pelas lógicas cristâs alguns terão ido para o céu, outro para o inferno, outros tantos para o limbo, etc… No entanto o limbo foi uma invenção católica. Não existe. Foi inventado por Santo Agostinho até que o papa João Paulo II decidiu dizer que ele já não existia. Ou seja as rezas para as pessoas que se encontravam no limbo só eram válidas até o papa João Paulo II ter mudado as regras do jogo. Agora já são novamente uma inutilidade?
Outro problema que se coloca é este: Deus não nos envia nenhum mail a indicar para onde foram os mortos. Será que o fulano tal foi para o céu ou para o inferno? Não tem lógica rezar a mortos que foram para o céu. É mandar rezas fora. Ou será que temos de rezar a essas almas para as tentar manter no céu?
Por outro lado se já foi para o inferno, então não há nada a fazer. Foi condenada pelos seus actos, pelos seus pecados, por um Deus infinitamente misericordioso a passar a eternidade no Inferno. Ora se esse Deus infinitamente misericordioso condenou uma alma pecadora a viver no Inferno desde quando é que as nossas rezas vão fazer diferença?
Uma coisa interessante seria fazer um estudo estatístico para ver que quantidade e qualidade de rezas seriam necessárias para tirar uma alma do inferno para a levar para o céu. Podíamos chegar a alguma conclusão do género: são necessários 7 pais natais sentidos para levar uma alma do inferno para o céu. Mas este tipo de estudos é impossível. Nós não conseguimos objectivar as invenções parvas de meia dúzia de ignorantes fundamentalistas que viveram há uns séculos.

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