terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Identidade, Terrorismo e Futebol

São boas as noticias que me fizeram escrever este pequeno texto. No Iraque existem 3 identidades principais: curdos, xiitas e sunitas. Ambos os sunitas e xiitas são muçulmanos que a certa altura da história se desentenderam e ainda hoje não conseguiram chegar a consenso. Desde a invasão do Iraque pelos EUA que o país se tem afundado cada vez mais. O discurso hipócrita de direitos humanos e a falsidade da luta contra o terrorismo feito por Bush culminou nos direitos de exploração dos poços petrolíferos iraquianos por empresas americanas e inglesas e na guerra civil e pobreza extrema do povo iraquiano. O Iraque caiu numa guerra civil brutal que opõe xiitas, sunitas e curdos e tornou-se uma base de treino de operacionais da al-quaeda, que, de bom gosto, cometerão atentados suicidas em países ocidentais.

Os grupos terroristas usam a religião para angariar cada vez mais adeptos. Os países ocidentais, mesmo frente a manifestações de ódio intensas, mantêm o discurso supérfluo que o Islão é uma religião de paz (como se alguma o fosse e muito menos o Islão que de todas as religiões é a mais agressiva) e a necessidade de falar com o Islão Moderado.



Espera-se com isto uma luta eficiente contra o terrorismo. Nos países islâmicos a única diferença entre moderados e fundamentalistas é que um diz esfola e o outro diz mata. Mas o que mais me surpreende é a nítida estupidez e ingenuidade dos nossos líderes democráticos e de muitos dos nossos intelectuais que sistematicamente mantêm uma discussão no âmbito da religião e dominada por esta. Ao reduzirmos as diferentes identidades de um povo a uma só, especialmente religiosa, estamos a preparar o desastre humanitário. As pessoas só se conseguem focar nas diferenças entre elas o que desencadeia episódios de violência absurda.

Se as pessoas se focassem no desenvolvimento de outras identidades como defesa da liberdade de expressão (com excepção óbvia para a linguagem do ódio), na defesa dos direitos da mulher, na defesa dos direitos dos nossos filhos estudarem e viverem em paz, na defesa de um sistema social justo, na defesa dos direitos dos homossexuais, etc…então seria possível encontrarmos mais pontos de ligação do que de separação.

Poderão estar a perguntar-se o que tem isto a ver com futebol. Segundo consta o treinador da selecção de futebol do Iraque juntou uma equipa de curdos, xiitas e sunitas. Estes jogadores não se falavam e não gostavam uns dos outros. O treinador começou a misturá-los nos quartos e a prepará-los psicologicamente como uma equipa. A prepará-los para um jogo de equipa, a prepará-los para enfrentarem as dificuldades em conjunto, a prepará-los para festejarem a vitória em grupo e, acima de tudo, a mentalizá-los de que a vitória só é possível se todos jogarem como um só e não como 3 identidades religiosas distinctas.

Passado um tempo os jogadores em vez de pensarem que á frente tinham o inimigo começaram a ouvi-lo e todos ouviram o mesmo. Todos ouviram que perderam um filho, uma mulher, uma tia, um melhor amigo em atentados estúpidos. Todos se perceberam que não eram inimigos mas sim vítimas da ignorância humana. Construíram mais uma identidade que os fez superar tudo e todos e finalmente, sagrarem-se campiões da Ásia. Mas sabem o que é mais irónico nisto tudo? É que o treinador fala português. Um simples homem que não mostrou qualidades para treinar nenhuma equipa de primeira liga portuguesa conseguiu dar um exemplo prático de como se pode combater o terrorismo com eficácia. Muitos de nós passam por este breve instante da história sem deixarem obra feita que mereça atenção. O treinador português e os jogadores iraquianos não podem dizer o mesmo. Poderemos nós aprender alguma coisa com esta lição? Acredito que sim.

7 comentários:

  1. clap clap: finalmente alguem explica a diferença entre muçulas moderados e fundamentalistas; booooooo: todas as religiões são violentas (a cristã? a budista? a hindu? todinhas?); boca-aberta: ñ conhecia a estória, verdadeira? parece de filme; e o nome do treinador? lição: aprendida

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  2. A história é bem verdadeira. O nome do treinador é que já não me lembra. Na altura que escrevi o texto esqueci-me de ir ver. É algo que já pensei fazer várias vezes porque dar um nome ao herói é sempre importante, mas depois metem-se outras coisas à frente.
    Efectivamente o registo histórico das religiões mostra que são bastante agressivas, especialmente aquelas que se definem como monoteismos. A questão que se coloca na religião tem a ver com a formação de uma identidade pessoal. A religião procura dominar todas as esferas da vivência humana e assim reduzir as diferentes identidades que uma pessoa pode ter. Este exemplo mostra como o futebol conseguiu eliminar as diferenças assentes numa identidade religiosa e criar uma nova identidade nos jogadores da equipa.
    abraço

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  3. sendo «religião» (entre outras definições) um conjunto de preceitos e práticas pelas quais se comunica com um ser ou seres superiores (Dicionário da Língua Portuguesa Porto Editora 8ªEd. 1987)não vejo como podem (pelo menos as principais) ser consideradas agressivas; uma coisa é a religião, outra é a prática dos q dizem segui-la.
    ps: qd escrevi PORTO Editora assaltou-me uma dúvida tenebrosa, arrepiaram-se-me os cabelos, encolheram-se-me os c.ões; será q o Advocatus é de Lis lis lis, f.se da capital? será q estou em contacto com a mouraria? ainda acabo decapitado por traição; estou inocente! eu ñ sabia!

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  4. o treinador chama-se Jorvan Vieira, brasileiro de nascimento, filho de português e brasileira, "português de Lousada" por opção, com nacionalidade luso-brasileira-marroquina, muçulmano (ñ sei se moderado se fundamentalista, se diz mata se diz esfola)

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  5. Boas Abel, quanto à religião
    Acha mesmo que a religião é separada da prática daqueles que a seguem?
    E para se ver se uma religião é agressiva ou não não se procura uma qualquer definição num dicionário. Estuda-se a história das mesmas, esta é a melhor forma. E a história mostra que as religiões que se descrevem como "monoteistas" são mais violentas que as politeistas. A razão é simples: a base de qualquer religião é o seu Deus omnipotente. No politeismo qualquer Deus pode ser adoptado no conjunto de deuses já existentes. Num "monoteísmo" só existe um Deus verdadeiro sendo todos os outros falsos. Logo a religião "monoteista" responde de forma mais agressiva à presença de outras religiões.
    Quanto ao treinador agradeço. Ainda não tinha ido ver isso e poder dar um nome aos nossos heróis é sempre importante.
    Abraço

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  6. acho, v. tb («Os grupos terroristas usam a religião ...»;
    eu recorri ao dicionário, v. quer correr com ele; definida a palavra teremos a certeza de estar a falar da mesma coisa qd nos referimos a religião;
    «uma qualquer definição» não c.lho qu'o dicionário é da Porto Editora e é de mil nove e oitenta e sete, ano vintage;
    na história das mais diferentes democracias não falta violência nem apelos à violência; podemos por isso afirmar q a democracia é violenta?
    ñ sei se a questão mono/poli ñ se poderá reduzir a uma questão semântica ou mesmo fónica; por ex. o catolicismo será mesmo uma relião monoteísta?
    todas estas considerações quase me faziam esquecer de o parabenizar pelo belíssimo texto q escreveu (e atão com o meu lápis azul ficava perfeito).
    ps: adoro parabenizar; mais ainda quem ñ conheço, confortado pela sinceridade inerente.

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  7. Boas Abel, obrigado pelos elogios ao texto. rsrsrsrs
    Relativamente ao catolicismo ser um monoteísmo. Pessoalmente creio que ele é um falso monoteismo. Digo falso porque tem deus pai, deus filho, deus espírito-santo, virgem maria, o diabo, etc... foda-se. A árvore genealógica deste moneteismo é maior que a da minha família. rsrsrsrsrs
    De qualquer forma é definido como monoteismo e apresenta uma grande intolerância a outros deuses, coisa que não acontece com religiões politeistas.
    Relativamente às democracias e religião. Uma democracia pode ser violenta para os seus cidadãos (tipico de casos de estados fracos com altos indices de criminalidade) ou para outras sociedades (como por vezes acontece nas democracias ocidentais). Se reparares os níveis de violência estão intimamente associados à presença de religião e não de democracia. Pelo contrário, nas democracias mais evoluidas, onde os direitos humanos são mais fortemente defendidos, a educação cientifica é superior, etc... a prática e crenças religiosas são inferiores.
    Regra geral, democracias pobres, caracterizadas pela corrupção e pobreza apresentam altos indices de prática e crença religiosa, assim como altos indices de violência.
    Podes ir para onde quiseres no planeta, essa relação é praticamente universal. Compara estados da america do sul ou estados africanos com a europa. Analisa os diferentes estados dos EUA e comparar as taxas de criminalidade e pobreza com os niveis de religiosidade, compara diferentes sociedades muçulmanas com outras sociedades e a conclusão vai ser sempre a mesma.
    Historicamente esta relação também se observa. Sociedades mais fortemente dominadas pela religião, em particular religiões monoteistas, foram sempre bastante violentas e intolerantes.

    Abraço e... boa páscoa (?) - será que eu deveria dizer boa páscoa? Afinal de contas estou a falar da crucificação de um tipo!

    Até já imagino 2 padres a falarem:
    - Então essa páscoa, está a ser boa?
    - epá, maravilhosa. Ainda bem que os romanos crucificaram o gajo. Caso contrário estávamos fodidos. Quem é que poderia dizer que a Igreja teria um momento para se redimir dos seus pecados?

    Olha, olha... quem é que acabou de ter mais uma dieia para uma sátira religiosa?
    rsrsrsrs

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