quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Perdão, Misericórdia e Anti-semitismo

Aos poucos e poucos o Papa lá vai mostrando a sua verdadeira faceta. Ao início desencadeou-o uma crise ao tentar sobrepor a religião à ciência. Falou sobre as mulheres na Igreja (sim, aquele ser que não tem direito a ter os mesmo previlégios que os padres), defendeu as missas em Latim e iniciou algo que não se via a Igreja fazer há algum tempo: afastou-se do discurso moderado contra a homossexualidade e iniciou uma intervenção mais agressiva.

Uma das últimas noticias diz respeito à reintegração do bispo Richard Williamson. Este bispo fora excomungado pelo Papa João Paulo II em 1988 devido aos seus ideais. Este bispo, anti-semita declarado, é um forte opositor do concilio Vaticano II que definira um rumo mais liberal para a Igreja Católica.



Entre os seus diferentes discursos podem encontrar-se as bases do pensamento de extrema direita ainda mais agressivo do que os discursos públicos dos próprios líderes políticos deste tipo de grupos. A negação do holocausto quando afirmou:

“Não houve um único judeo morto numa câmara de gás. São tudo mentiras, mentiras e mentiras. Os judeos inventaram o holocausto.”(1)

A defesa da existência do Priorado do Sião ou algo de género que sabemos ser uma invenção Russa do séc. XIX mas que ainda perdura. Ou seja a defesa ade que os judeos são os culpados pelos males do mundo e são os poderosos que movem os cordelinhos todos nos bastidores da politica mundial.

“O que Rakovsky disse ao agente de Estaline foi que os judeos estavam preocupados por ele ter traído a revolução comunista na Rússia. Então, para derrubarem Estaline, levaram Hitler ao poder financiando o seu partido Nazi no final dos anos 20”(2)

Ora com lógicas destas é um pouco difícil encarar a existência de câmaras de gás ou campos de morte onde se mataram milhões de judeos. Também fica dificil encarar as imensas provas de perseguições e discursos de ódio contra os judeos na Alemanha Nazi. Mas os disparates não acabam aqui.

Os seus argumentos além de evidenciarem correntes de pensamento esquizofrénicas de extrema direita (negação do holocausto, defesa de teorias da conspiração desacreditadas como o priorado de Sião) também se sustentam num fundamentalismo religioso e anti-semitismo.

O fundamentalismo religioso e o anti-semitismo encontram-se expressos nas suas afirmações sobre os protestantes e judeos.
“ Os protestantes recebem ordens do diabo e o Vaticano vendeu a sua alma ao liberalismo”.(3)

(Nesta citação devo condenar a jornalista por ter escrito diabo em letra pequena. É um nome próprio e deveria ter sido escrito em letra grande.)

“Os seus graves defeitos (os judeos) tornaram-nos odiosos para as nações que os rodeiam. Tudo isto nos faz pensar que os judeos são os mais activos artesãos na vinda do anticristo”(4)

Este é o tipo de Bispo que o actual Papa reintegrou justificando esta reintegração como um «gesto magnânimo de misericórdia». Gesto magnânimo de misericórdia? Poupem-me a tanta estupidez. O que não compreendo é como as sociedades laicas ocidentais permitem sequer este tipo de discurso. Que aquela anormalidade fundamentalista que se diz o alto representante de Deus na Terra seja um velho esquizofrénico tudo bem, mas que os estados ocidentais laicos permitam este tipo de discurso, nem pensar.

Na realidade, este gesto de estupidez magnânima não se deve a outra coisa que não seja os ideais conservadores do actual Papa. Este gesto vem na sequência de todos os outros já mencionados e que pretendem endurecer a moral católica e embrutecer os sentidos humanistas das sociedades laicas de forma a dar mais poder social à Igreja Católica.

O perigo espreita pois os grupos de extrema direita começam a crescer e poderão encontrar no Imperador Palpatine da Igreja moderna um precioso aliado. Como no passado quando a extrema direita cresce a Igreja sente-se em casa. Ratzinger, um jovem hitleriano, corre o risco de se vir a tornar o George Bush da Casa Negra do Vaticano. Mas pelo menos, agora, não podemos dizer que fomos enganados. Todos conhecemos bem quem é este Imperador do Mal.

NOTAS

(1) Revista Tabu, 13 Janeiro de 2009, nº 15, pág. 22.
(2) Idem, idem.
(3) Idem, idem.
(4) Revista Tabu, 13 Janeiro de 2009, nº 15, pág. 23

Sem comentários:

Enviar um comentário