sábado, 22 de novembro de 2008

Obama e as previsões erradas

Faz mais de um ano, na altura das primárias Norte-Americanas, escrevi um texto onde falava acerca da luta hercúlea e quase fratricida entre os concorrentes democratas e fazia a previsão sobre quem seria o próximo presidente dos EUA. Nas minhas previsões, McCain seria o próximo presidente dos EUA. Felizmente elas estavam erradas.

Escrevo estas linhas para falar de 3 assuntos relacionados: (1) uma análise pessoal dos erros de ambos os candidatos ao longo da corrida à Casa Branca e sobre (2) a/as razões que levaram ao insucesso da minha previsão.

Ao longo da corrida presidencial McCain e Obama fizeram escolhas, umas mais positivas, outras mais negativas. McCain começou bem. Após uma vitória fácil sobre os seus concorrentes directos, no Partido Republicano, viajou até Israel. Actualmente qualquer concorrente à presidência tem de ter o apoio de Israel. O lobbie israelita no EUA domina uma boa percentagem de votos assim como oferece contribuições generosas necessárias à campanha.



Por seu lado, Obama, deu mais atenção à Europa do que a Israel, apesar de não o ter esquecido, obviamente. No entanto, foi um erro perder tanto tempo na Europa. A Europa não tem o peso eleitoral que Israel e as relações com o próprio estado de Israel não são as melhores. Obama perdeu tempo na Europa enquanto que McCain ganhou votos em Israel.

O segundo momento decisivo está relacionado com a escolha dos respectivos vices, momento em que McCain foi particularmente infeliz. À primeira vista, a selecção de Palin, até pode parecer inteligente. Pela primeira vez uma mulher era escolhida para vice-presidente. A escolha de Palin pretendia segurar muito do eleitorado feminino que apoiava Hillary e discutir votos de famílias indecisas, em particular, no interior dos EUA. Na realidade, a escolha de Palin foi extremamente infeliz.

McCain demonstrou insegurança e falta de criatividade quando não podia. Pallin não apresentava qualquer tipo de experiência política (veio do Alasca para onde felizmente voltou) e fazia parte dos republicanos conservadores. A insegurança de McCain advêm do facto de ter escolhido, para vice-presidente, uma pessoa que iria assegurar o apoio das bases conservadoras quando não precisava delas.

McCain tinha o apoio das bases mesmo que não gostassem dele. Os democratas garantiram-lhe este apoio ao elegerem um negro para a corrida presidencial (apesar do racismo não se encontrar muito presente nos meios socio-económicos mais elevados ele é endémico no eleitorado conservador e ultra-consevador).

A falta de criatividade ficou patente ao não saber seleccionar um(a) vice-presidente que se contrapussesse ao factor utópico Obama. Pallin era nova e a primeira mulher vice-presidente. Desta forma a luta tornara-se utópica: o primeiro presidente negro ou a primeira vice-presidente mulher. A velha máxima dos EUA como a terra dos sonhos vencera as presidenciais. No entanto o discurso politico de McCain falava de mudança (de forma a distanciar-se de Bush) mas Pallin era conservadora o que aumentava a confusão entre o que seria uma corrida presidencial utópica ou o possível retorno aos conservadorismo republicano.

Obama fez uma escolha acertada. Ao seleccionar um vice-presidente mais velho suavizou as criticas sustentadas na sua idade e falta de experiência. Agora a utopia aliava-se à experiência. McCain tinha a experiência e faltou-lhe a utopia. Em vez de Pallin seria preferível um homem novo (talvez descendente de imigrantes) e que encarnasse o espírito do sonho americano (uma lenda que parece não querer desaparecer). Desta forma as eleições seriam: utopia e experiência versus experiência e utopia. Qualquer um deles garantiria a mudança.

No entanto, mesmo com Pallin, McCain encontrava-se à frente, na corrida pela Casa Branca. Qual o factor que impulsionou Obama para esta vitória histórica? Até ao momento do agravamento intenso da crise económica acreditei que as minhas previsões estavam correctas e que McCain seria o próximo presidente Norte-Americano. O eleitorado mudou de rumo quando a crise se agravou e o lema passou a ser unicamente a mudança. Como poderia McCain mudar a sua política com uma vice-presidente conservadora e sem experiência suficiente para saber gerir o país? A crise económica garantiu a presidência ao primeiro homem negro na história dos EUA.

Sem comentários:

Enviar um comentário