Na revista Sábado foi publicada uma entrevista bastante interessante sobre o cataclismo que se abateu na ilha da Madeira. Nesta entrevista calavam-se alarmismos ambientalistas sobre aquecimento global e mudanças climáticas como principais responsáveis. Além de se calarem alarmismos infundados chamava-se a atenção para a mais que provável culpa humana.
Não é que o governo madeirense tenha culpa na quantidade de água que jorrou dos céus. Por isso podemos culpabilizar o clima. Mas o governo da Madeira sabia, efectivamente, como era o seu clima local. Sabia que a Madeira apresentava um clima próprio que conduzia à produção de muita chuva. E mesmo sabendo isto, mesmo sabendo que existem 3 ribeiras à volta do Funchal decidiu-se a construir estupidamente junto a essas ribeiras, roubando o espaço necessário para se escoar a água.
O governo da Madeira, recebendo mais dinheiro que o governo dos açores, apesar de terem menos 7 ilhas, não foi capaz de desenvolver um plano de ordenamento urbanístico que levasse em linha de conta as cheias provocadas por chuvas intensas. Os interesses dos empreiteiros levaram a melhor: construíram-se hotéis, campos de futebol, campos de treino, casas e outros investimentos privados junto, e em cima, do leito das ribeiras. Esta é a obra que o Alberto João Jardim deixa ao país. Isto e as tristes imagens de o ver em roupa interior.
Quando o país se começava a aperceber da gestão irresponsável de um populista ignorante, de um Zé cabra da política portuguesa, como é o João Jardim, dá-se este desastre. Quem pode agora publicamente falar sobre a irresponsabilidade governativa, quando o mais importante é enfrentar a crise que infectou o arco-iris turístico que é a Madeira? As pessoas deviam pensar que por reconstruir a Madeira passa também, talvez, pela reconstrução governativa.
O povo da Madeira chora os seus mortos, o resto de Portugal olha aterrado para a crise e espera que o mesmo não lhes aconteça à porta de casa e todos os contribuintes portugueses vão ter de pagar os estragos produzidos pela incompetência política madeirense. Fica somente uma questão: poderá o governo da Madeira ser legalmente responsabilizado pelo sucedido? Se sim, estaremos em frente a um julgamento circo onde os culpados, além de culpados ainda terão direito a recompensas chorudas, pagas pelo bolso do contribuinte?
Mas aposto com os leitores que caso o governo regional seja julgado terá todo o povo madeirense a apoiá-lo. As pessoas ainda não se mentalizaram que se queremos um bom governo temos de ser nós a exigi-lo. Os madeirenses correm o risco, no futuro, de provar a velha máxima de Kofi Annan sustentando que “os povos tem os líderes que merecem”. O resto de Portugal já o provou porque não os madeirenses?
Para terminar gostaria de vos deixar um filme que se encontra no youtube. Um filme premonitório sobre a crise pré-anunciada e rapidamente esquecida que foi a da Madeira. Pelo menos o leitor não fique com nenhuma ilusão: a verdadeira crise ainda cá continua. É a crise da estupidez humana. E esta ainda vai ficar durante muito tempo.
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