quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Malária, ambientalismo e o livro do Apocalipse

Qualquer ambientalista ferrenho ataca de imediato as minhas ideias. Está provado que a malária é transmitida por um mosquito e sabe-se que esse mosquito habita zonas mais quentes, por isso afectar tanto o continente africano. Se o planeta aquece então é possível ao mosquito proliferar por novos habitats e expandir o seu potencial patológico. O argumento é lógico mas falha pela sua simplicidade.

Se a malária se encontra associada a ambientes quentes como poderemos explicar as epidemias de malária na fria Rússia do século XIX? E na Inglaterra? E em muitos locais mais frios dos EUA? Quando analisamos o problema que representa a malária não nos podemos focar unicamente na temperatura. Outros factores como alimentação, saneamento básico, densidade populacional, cuidados de saúde primários, riqueza pessoal e insecticidas são mais importantes que a temperatura propriamente dita.



O uso de insecticidas pode ajudar a diminuir as populações de mosquitos; uma alimentação adequada ajuda a fortalecer o corpo o que permite maior resistência a doenças como melhor capacidade para as combater; o saneamento básico permite uma diminuição da probabilidade de contágio (relembremos o caso inglês do século XVIII quando se descobriu que uma epidemia de malária tinha sido provocada por uma mulher que fora lavar as fraldas do filho doente nas águas públicas); o aumento da densidade populacional (nas grandes cidades, por exemplo) diminui as populações de mosquitos locais diminuindo igualmente a probabilidade de contágio; os cuidados de saúde primários permitem um diagnóstico atempado e uma intervenção precoce e aliados a riqueza pessoal permitem os melhores tratamentos disponíveis diminuíndo as probabilidade de morte.

Na realidade foram estes factores que permitiram aos EUA erradicar a malária após a segunda guerra mundial. É verdade, os EUA erradicaram a malária das suas fronteiras em pleno aquecimento global. O leitor também pode reparar que todos os factores mencionados são praticamente inexistentes em África e daí ser um problema epidémico tão grande. Mas se ainda não estiverem convencidos comparem as taxas de mortalidade por malária no 1/5 mais rico da população africana com o 1/5 mais pobre.

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