segunda-feira, 2 de março de 2009

Eu sou branco

Eu sou branco. Neste momento o leitor deve estar a pensar que eu atingi o estado nirvana e cheguei à conclusão que não era negro, amarelo ou vermelho. Mas não. Não atingi o estado de nirvana. Só estou a dizer que sou branco. Mas sou mesmo branco. E não pense o leitor que eu estou em negação. Não. Eu sou mesmo branco.

Eu sou tão branco que os meus colegas na escola me davam alcunhas como neoblanc ou lixívia. E nem vos quero contar do gozo que era cada vez que saia um novo anúncio do Skip. “branco mais branco, não há…. Blá, blá, blá….”

Eu sou tão branco, tão branco que cada vez que entro num hospital ouço alguma enfermeira a dizer: “rápido, está com anemia, precisa de uma transfusão de sangue”. É patético. Os médicos ficam há minha volta a perguntar-se se eu estou vivo ou morto. Um deles comentou: “que interessante. Está lívido mas ainda fala.” Este ainda era estudante e não sei se continuo na carreira mas já reparei que todos os médicos gostam de me sentir o pulso.

A pedido médico fui fazer praia para ganhar “alguma” cor. Fiquei curioso com o que “alguma cor” queria dizer. Talvez uma espécie de branco sujo. Mas não questiono os médicos e lá decidi ir à praia.

Cheguei à praia e tirei a camisola para deixar os fotões limparem a minha brancura. Mas mal tiro a camisola começam as pessoas todas a berrar. “Socorro, estou incadeado, não vejo nada”… “fiquei cego”… “o sol está a mover-se, é o fim do mundo”. Fui obrigado a vestir a camisola novamente e aconselhado a fazer um solário antes de voltar à praia. Ficou estabelecido que era totalmente proibido conduzir sem camisola, pela segurança dos outros automobilistas.

Decidi visitar um spa que ficava perto de casa. Foram todos muitos simpáticos comigo e explicaram-me o que eu deveria fazer durante a sessão de solário. Era simples: não tinha de fazer nada. Somente ficar deitado e fazer companhia aos ultra-violetas durante 10 minutos.

Sai após esses 10 minutos. Os funcionários do spa ficaram impressionados com os resultados. Eu estava tal como entrei….BRAANNNNCCCCOOOOOOOOOOOO. decidiram aumentar a intensidade dos ultra-violetas, mas eu continuei branco. Aumentaram de tal forma a intensidade dos ultra-violetas que a energia gasta provocou um apagão em Lisboa. Na tentativa de me dar “alguma cor” sobrecarreguei a rede nacional de electricidade.

No final eu continuava branco com a vantagem de agora também estar esterilizado. Compreende agora o que quero dizer quando digo que sou branco?

2 comentários:

  1. 2009-10-06 00:51:32
    Eu não entendo esse preconceito ridículo com os brancos.Parece que não posso gostar de ser branca,tenho de atender os pedidos da maioria que adotou o padrão da cor do verão frango-de-padaria junto com a cultura de viver se torrando debaixo de um sol infernal.E se eu não quiser,como faço?Isso sem falar no gênio que bolou o slogan para a propaganda do sundown "...e se vc não gosta de sol,de que planeta vc é?"Putz,que saco,achei que eu era do planeta terra,agora vou ter de procurar meus pais biológicos num outro planeta qualquer.

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  2. 2009-10-06 00:52:20
    Espero que não confundam gostar de ser branco (a) com racismo.

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