terça-feira, 10 de março de 2009

Homossexualidade: uma explicação?

Qual a razão que justifica a existência da homossexualidade? Homossexuais não se reproduzem, logo não deixam descendentes. Terão, então, alguma vantagem evolutiva relativamente aos heterossexuais? Ou será a homossexualidade uma doença como a gripe ou o cancro? Que vantagem terão os genes dos homossexuais que não se reproduzem? Muitas são as questões que se nos colocam quando analisamos a homossexualidade. Neste texto irei rever as diferentes teorias sobre a origem da homossexualidade e irei propor uma nova teoria que pretenderá explicar as vantagens evolutivas da homossexualidade.

Antes que tudo temos de conhecer as semelhanças e as diferenças entre homossexualidade feminina e homossexualidade masculina. Existe uma grande semelhança entre os 2: a sua escolha de parceiro sexual é dirigida para pessoas do mesmo sexo. Em tudo o resto são diferentes. O homem gay tem um comportamento sexual semelhante ao homem heterossexual. O mesmo acontece nas mulheres. O seu comportamento é basicamente o mesmo. Para facilitar irei colocar as diferenças de ambos no quadro abaixo. Os leitores heterossexuais poderão pensar que estou a descrever o comportamento heterossexual. Enganam-se.


Comportamentos sexuais
Homossexualidade masculina
Homossexualidade feminina
Selecção de parceiros pela beleza física
Não tem grande importância a beleza
Apreciam a companhia de mulheres
Evitam a companhia de homens
Casais com mais instabilidade e de curta duração
Casais com maior estabilidade e de maior duração
Orgias e trocas de parceiros muito frequentes
Orgias e trocas de parceiros mais raras
Menor selectividade sexual na escolha do parceiro
Maior selectividade sexual na escolha do parceiro
Acreditam que nasceram assim
Acreditam que escolheram ser assim

Os comportamentos aqui evidenciados demonstram uma grande semelhança no comportamento de homens e mulheres homossexuais e heterossexuais. Os homens heterossexuais seleccionam as suas parceiras sexuais pela beleza. Também tem limites de excitabilidade sexual mais baixos e apresentam tendência para a poligamia.

As mulheres por seu lado, apresentam comportamentos mais monogâmicos, não dão tanta importância à beleza do parceiro e tem critérios de selecção de parceiros mais desenvolvidos.

As causas da homossexualidade ainda não são totalmente compreendidas. A teoria usada em sociologia da construção social falha redondamente para explicar a homossexualidade. Quais são as famílias que educam os filhos para serem homossexuais? Com intolerância religiosa e social porque ainda existem homossexuais? Como explicamos os comportamentos homossexuais de algumas crianças? Estas e outras questões colocam de lado a sociologia como área capaz de dar respostas. É preciso recorrer à biologia e psicologia evolutiva para tentar encontrar respostas mais satisfatórias. E mesmo aí é difícil.

Uma das teorias para explicar a origem da homossexualidade é a teoria genética. A homossexualidade teria causas genéticas. Em 1993, Dean Hammer publicou um artigo na revista Science, onde afirmava ter descoberto o gene gay. Este cientista seleccionou 40 famílias de um grupo de 114 famílias com homossexuais masculinos e encontrou marcadores concordantes no cromossoma X em 33 deles. Como se demonstrou posteriormente, isto não prova a existência de um gene gay, uma vez, que, como irmãos tem muita coisa em comum. Uma boa parte da sua genética está incluída no seu património comum. Obviamente que o insucesso deste estudo não nega que a teoria genética esteja errada. Mas para a teoria genética ser considerada verdadeira tem de se descobrir qual o gene e demonstrar o seu mecanismo de actuação (Pracontal, 2002). Esta teoria continua em aberto.

A segunda teoria aborda a influência das hormonas no desenvolvimento cerebral durante a vida uterina. Sabemos que durante o desenvolvimento embrionário o cérebro está sujeito à acção de hormonas que vão estabelecer a formação de circuitos neuronais. Estes circuitos podem estar envolvidos na reprodução humana.

Este argumento foi usado para explicar a homossexualidade com base nas diferenças anatómicas cerebrais entre homossexuais e heterossexuais. Foi em 1991 que Le Vay, um médico norte americano publicou um artigo onde afirmava que o tamanho do hipotálamo em homens heterossexuais é diferente dos homossexuais. Por outro lado encontrou semelhanças entre o tamanho do hipotálamo nos homossexuais masculinos e nos cérebros das mulheres. O hipotálamo controla a secreção de hormonas sexuais e, como tal, pode ser o responsável pela homossexualidade. O estudo mostrava que o hipotálamo era mais grosso nos homens heterossexuais que nas mulheres ou nos homens homossexuais.

Este estudo foi atacado por muitos cientistas uma vez que os cérebros, guardados em formol, pertenciam a homens e mulheres heterossexuais sem doenças e a homens homossexuais contagiados com o vírus da SIDA. A comparação para ser correcta teria de ser feita com cérebros de pessoas sãs uma vez que a SIDA provoca lesões cerebrais. Nunca ficou explícito se a diminuição do hipotálamo nos homossexuais poderia ser devido a lesões cerebrais. Por outro lado, de acordo com Catherine Vidal ainda não houve mais nenhum investigador a encontrar resultados semelhantes.

Por outro lado diversos estudos em animais mostram a relação entre hormonas e sexo, em particular, estudos efectuados em ratos. No entanto os ratos são diferentes dos seres humanos. Por exemplo, os ratos possuem imensos receptores cerebrais para as hormonas sexuais no hipotálamo e nas regiões superiores do cérebro responsáveis pela organização dos comportamentos (Vidal, 2005). De acordo com Catherine Vidal:

«A parte frontal do córtex cerebral, e em particular a pré-frontal, torna-se cada vez mais volumosa e vai supervisionar o resto de cérebro. Este córtex pré-frontal hipertrofiado permitiu a emergência das funções cognitivas superiores. E, paralelamente, os receptores hormonais do córtex tornam-se cada vez mais raros.[1]»

E continua:

«Isto significa que, com a evolução das espécies mais antigas até às mais recentes, o cérebro escapa gradualmente à lei das hormonas para conduzir os comportamentos sexuais. Isto é evidente no macaco. A injecção de testosterona numa fêmea recém-nascida não leva a um comportamento sexual masculino. Da mesma forma, um macaco macgo castrado reduz pouco as suas actividades sexuais, tanto mais que está rodeado de fêmeas. Conhecem-se também casos de castração nos homens (acidentes, eunucos…) que mantêm uma actividade sexual normal.[2]»

Estudos em ratos também mostraram que não são só as hormonas que influenciam a sua sexualidade, mas muito especialmente o tratamento dado pela progenitora. A mãe trata as crias de sexo masculino e sexo feminino de formas diferentes. Estimulando a zona anogenital dos pequenos ratos a mãe garante que se vão comportar como machos na idade adulta. Se o mesmo for feito em ratos fêmeas estas adoptam o comportamento de ratos do sexo masculino, na idade adulta. E perdem o estro.

Existe ainda a teoria parasitária para tentar explicar a homossexualidade, defendida por Paul Ewald e Gregory Cochran. A homossexualidade seria uma consequência de uma contaminação de um parasita que procuraria transmitir-se para outros hospedeiros. Esta teoria procura força no facto dos homossexuais sempre terem existido em todo o lado o que dificulta a explicação social ou ambiental. No entanto eles não explicam quais as vantagens de transmissão para a homossexualidade feminina. Na realidade nem explicam como se faria a transmissão do parasita. Isto para não falar de que nem sequer sabem se esse parasita realmente existe. De todas as teorias esta parece-me a mais ridícula.

BIBLIOGRAFIA

BENOIT-BROWAEYS, Dorothée; VIDAL, Catherine; Cérebro, Sexo & Poder; ed. Caleidoscópio, 1ª edição, ISBN 978-989-8010-37-7, Casal de Cambra, 2006

GOUILLOU, Philippe; Porque é que as mulheres dos ricos são belas?;  ed. Publicações Europa-América; colecção Biblioteca das Ideias, 1ª edição, ISBN 972-1-05405-4, Mem Martins, 2004

PRACONTAL, Michel de; A impostura cientifica em dez lições; ed. UNESP, 1ª edição, ISBN 85-7139-521-7, São Paulo, 2002

NOTAS FINAIS


[1] BENOIT-BROWAEYS, Dorothée; VIDAL, Catherine; Cérebro, Sexo & Poder; ed. Caleidoscópio, 1ª edição, ISBN 978-989-8010-37-7, Casal de Cambra, 2006; pág.43.
[2] idem, idem; pág, 43-44.

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