Qual a razão que justifica a existência da homossexualidade? Homossexuais não se reproduzem, logo não deixam descendentes. Terão, então, alguma vantagem evolutiva relativamente aos heterossexuais? Ou será a homossexualidade uma doença como a gripe ou o cancro? Que vantagem terão os genes dos homossexuais que não se reproduzem? Muitas são as questões que se nos colocam quando analisamos a homossexualidade. Neste texto irei rever as diferentes teorias sobre a origem da homossexualidade e irei propor uma nova teoria que pretenderá explicar as vantagens evolutivas da homossexualidade.
Antes que tudo temos de conhecer as semelhanças e as diferenças entre homossexualidade feminina e homossexualidade masculina. Existe uma grande semelhança entre os 2: a sua escolha de parceiro sexual é dirigida para pessoas do mesmo sexo. Em tudo o resto são diferentes. O homem gay tem um comportamento sexual semelhante ao homem heterossexual. O mesmo acontece nas mulheres. O seu comportamento é basicamente o mesmo. Para facilitar irei colocar as diferenças de ambos no quadro abaixo. Os leitores heterossexuais poderão pensar que estou a descrever o comportamento heterossexual. Enganam-se.
Comportamentos sexuais | |
Homossexualidade masculina | Homossexualidade feminina |
Selecção de parceiros pela beleza física | Não tem grande importância a beleza |
Apreciam a companhia de mulheres | Evitam a companhia de homens |
Casais com mais instabilidade e de curta duração | Casais com maior estabilidade e de maior duração |
Orgias e trocas de parceiros muito frequentes | Orgias e trocas de parceiros mais raras |
Menor selectividade sexual na escolha do parceiro | Maior selectividade sexual na escolha do parceiro |
Acreditam que nasceram assim | Acreditam que escolheram ser assim |
Os comportamentos aqui evidenciados demonstram uma grande semelhança no comportamento de homens e mulheres homossexuais e heterossexuais. Os homens heterossexuais seleccionam as suas parceiras sexuais pela beleza. Também tem limites de excitabilidade sexual mais baixos e apresentam tendência para a poligamia.
As mulheres por seu lado, apresentam comportamentos mais monogâmicos, não dão tanta importância à beleza do parceiro e tem critérios de selecção de parceiros mais desenvolvidos.
As causas da homossexualidade ainda não são totalmente compreendidas. A teoria usada em sociologia da construção social falha redondamente para explicar a homossexualidade. Quais são as famílias que educam os filhos para serem homossexuais? Com intolerância religiosa e social porque ainda existem homossexuais? Como explicamos os comportamentos homossexuais de algumas crianças? Estas e outras questões colocam de lado a sociologia como área capaz de dar respostas. É preciso recorrer à biologia e psicologia evolutiva para tentar encontrar respostas mais satisfatórias. E mesmo aí é difícil.
Uma das teorias para explicar a origem da homossexualidade é a teoria genética. A homossexualidade teria causas genéticas. Em 1993, Dean Hammer publicou um artigo na revista Science, onde afirmava ter descoberto o gene gay. Este cientista seleccionou 40 famílias de um grupo de 114 famílias com homossexuais masculinos e encontrou marcadores concordantes no cromossoma X em 33 deles. Como se demonstrou posteriormente, isto não prova a existência de um gene gay, uma vez, que, como irmãos tem muita coisa em comum. Uma boa parte da sua genética está incluída no seu património comum. Obviamente que o insucesso deste estudo não nega que a teoria genética esteja errada. Mas para a teoria genética ser considerada verdadeira tem de se descobrir qual o gene e demonstrar o seu mecanismo de actuação (Pracontal, 2002). Esta teoria continua em aberto.
A segunda teoria aborda a influência das hormonas no desenvolvimento cerebral durante a vida uterina. Sabemos que durante o desenvolvimento embrionário o cérebro está sujeito à acção de hormonas que vão estabelecer a formação de circuitos neuronais. Estes circuitos podem estar envolvidos na reprodução humana.
Este argumento foi usado para explicar a homossexualidade com base nas diferenças anatómicas cerebrais entre homossexuais e heterossexuais. Foi em 1991 que Le Vay, um médico norte americano publicou um artigo onde afirmava que o tamanho do hipotálamo em homens heterossexuais é diferente dos homossexuais. Por outro lado encontrou semelhanças entre o tamanho do hipotálamo nos homossexuais masculinos e nos cérebros das mulheres. O hipotálamo controla a secreção de hormonas sexuais e, como tal, pode ser o responsável pela homossexualidade. O estudo mostrava que o hipotálamo era mais grosso nos homens heterossexuais que nas mulheres ou nos homens homossexuais.
Este estudo foi atacado por muitos cientistas uma vez que os cérebros, guardados em formol, pertenciam a homens e mulheres heterossexuais sem doenças e a homens homossexuais contagiados com o vírus da SIDA. A comparação para ser correcta teria de ser feita com cérebros de pessoas sãs uma vez que a SIDA provoca lesões cerebrais. Nunca ficou explícito se a diminuição do hipotálamo nos homossexuais poderia ser devido a lesões cerebrais. Por outro lado, de acordo com Catherine Vidal ainda não houve mais nenhum investigador a encontrar resultados semelhantes.
Por outro lado diversos estudos em animais mostram a relação entre hormonas e sexo, em particular, estudos efectuados em ratos. No entanto os ratos são diferentes dos seres humanos. Por exemplo, os ratos possuem imensos receptores cerebrais para as hormonas sexuais no hipotálamo e nas regiões superiores do cérebro responsáveis pela organização dos comportamentos (Vidal, 2005). De acordo com Catherine Vidal:
«A parte frontal do córtex cerebral, e em particular a pré-frontal, torna-se cada vez mais volumosa e vai supervisionar o resto de cérebro. Este córtex pré-frontal hipertrofiado permitiu a emergência das funções cognitivas superiores. E, paralelamente, os receptores hormonais do córtex tornam-se cada vez mais raros.[1]»
E continua:
«Isto significa que, com a evolução das espécies mais antigas até às mais recentes, o cérebro escapa gradualmente à lei das hormonas para conduzir os comportamentos sexuais. Isto é evidente no macaco. A injecção de testosterona numa fêmea recém-nascida não leva a um comportamento sexual masculino. Da mesma forma, um macaco macgo castrado reduz pouco as suas actividades sexuais, tanto mais que está rodeado de fêmeas. Conhecem-se também casos de castração nos homens (acidentes, eunucos…) que mantêm uma actividade sexual normal.[2]»
Estudos em ratos também mostraram que não são só as hormonas que influenciam a sua sexualidade, mas muito especialmente o tratamento dado pela progenitora. A mãe trata as crias de sexo masculino e sexo feminino de formas diferentes. Estimulando a zona anogenital dos pequenos ratos a mãe garante que se vão comportar como machos na idade adulta. Se o mesmo for feito em ratos fêmeas estas adoptam o comportamento de ratos do sexo masculino, na idade adulta. E perdem o estro.
Existe ainda a teoria parasitária para tentar explicar a homossexualidade, defendida por Paul Ewald e Gregory Cochran. A homossexualidade seria uma consequência de uma contaminação de um parasita que procuraria transmitir-se para outros hospedeiros. Esta teoria procura força no facto dos homossexuais sempre terem existido em todo o lado o que dificulta a explicação social ou ambiental. No entanto eles não explicam quais as vantagens de transmissão para a homossexualidade feminina. Na realidade nem explicam como se faria a transmissão do parasita. Isto para não falar de que nem sequer sabem se esse parasita realmente existe. De todas as teorias esta parece-me a mais ridícula.
BIBLIOGRAFIA
BENOIT-BROWAEYS, Dorothée; VIDAL, Catherine; Cérebro, Sexo & Poder; ed. Caleidoscópio, 1ª edição, ISBN 978-989-8010-37-7, Casal de Cambra, 2006
GOUILLOU, Philippe; Porque é que as mulheres dos ricos são belas?; ed. Publicações Europa-América; colecção Biblioteca das Ideias, 1ª edição, ISBN 972-1-05405-4, Mem Martins, 2004
PRACONTAL, Michel de; A impostura cientifica em dez lições; ed. UNESP, 1ª edição, ISBN 85-7139-521-7, São Paulo, 2002
NOTAS FINAIS
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