segunda-feira, 16 de março de 2009

O céu pertence às crianças

Faz pouco tempo e procurava eu algo na Bíblia que não fosse completamente obsceno. Alguma história da qual eu pudesse tirar algum conforto humano. Como no Antigo Testamento, tal é impossível encontrar, comecei a procurar no Novo Testamento. Mais lúcido e menos psicótico, o Novo Testamento, consegue apresentar alguns insights mais interessantes. Um deles refere-se à afirmação de Cristo de que “o reino dos céus pertence às crianças”.

Apesar de muito ingénua, dá-me um certo gosto pensar nisto. Mais não seja, porque as crianças ainda não tiveram tempo de adquirir os conceitos de bondade e maldade que, culturalmente, são inculcados nos nossos cérebros.



Pensava eu pensava em crianças e Cristo quando a adorada Segóvia Brucelose me ligou a contar-me uma história interessante sobre a Igreja Católica. Procurei notícias na net e nos jornais sobre o caso. Na medida que ia lendo a história desta criança, apercebi-me que pouco tinha a ver com o Novo Testamento e que muito se assemelhava às ordinarices do Antigo Testamento.

Conta a história que uma criança brasileira de 9 anos (se fosse no Islão esta violação seria mais conhecida como noite de núpcias!) foi violada pelo padrasto e em consequência engravidou… de gémeos. Como qualquer pessoa com 2 neurónios e um pouco de humanismo sabe esta seria uma gravidez de risco. Não só pelo trauma psicológico envolvido como pela idade da criança e a capacidade do organismo em suportar uma gravidez de 9 meses.

A pedido da família e atendendo aos diversos factores a equipe médica decidiu interromper a gravidez. Pensei como é triste que o céu não se possa fazer na terra e que crianças de 9 anos tenham de sofrer tamanha tortura. Até que a Igreja Católica se meteu na festa e os meus sentimentos de pena pela criança se transformaram em sentimentos de desprezo pela Igreja.

A Igreja não só se opôs ao aborto como, inclusivamente, conduziu o caso para o ministério público de forma a proibir o aborto. E isto, sabendo, que em casos de violação a lei brasileira permite o aborto. A vontade da família venceu a estupidez da Igreja Católica e a equipe médica fez o aborto de forma a terminar com aquela gravidez.

Uma vez que a vontade da Igreja não fora satisfeita o Bispo José Cardoso Sobrinho decidiu excomungar a menina, a família da menina e os médicos envolvidos. Eu não sei se a família e os médicos são religiosos. Nesse caso acredito que a excomunhão tenha sido um autêntico pesadelo aliado já ao sofrimento da filha e à falta de apoio dos seus pastores. É realmente lamentável que a Igreja perceba tanto de tortura psicológica e tão pouco de humanismo.

Ainda mais triste é saber que o padrasto, Jaílson José da Silva, quando capturado pela polícia, admitiu ainda ter violado outra enteada que sofre de deficiências físicas e mentais, e não parece ter incomodado minimamente a Igreja. Na realidade nenhuma padre o excumungou.

Acredito que seja difícil para a Igreja excomungar um católico que viole crianças, mais não seja porque sempre os protegeu nas suas próprias fileiras. E nem me importa com os casos de excomunhão, porque sinceramente, pertencer à Igreja Católica, não interessa nem ao menino Jesus. O que é realmente chocante é a frieza face ao sofrimento humano. É o desinteresse pelo bem estar dos seus crentes e acima de tudo a falta de bom senso.

Parece que a Igreja é totalmente incapaz de dar um ombro amigo quando necessário. Parece ter um prazer sádico em fazer os seus crentes sofrerem quando o que necessitam é conforto. Na tamanha desumanidade da Igreja, quem sabe Jaílson José da Silva ainda se venha a mostrar como um bom nome para santo. Afinal estaria entre muitos iguais a ele.

E quanto às crianças de 9 anos? Desde que não tenham feito o aborto após violação creio que lhes será possível a entrada no céu. No esplendor do amor de Cristo e outras merdas do género.

1 comentário:

  1. Novo ataque à Igreja, mas como não lhe dar razão? De facto (EQQOAOSF), é revoltante. Pena que ponha tudo no mesmo saco, Igreja, religião(ões), clero... e assim perde algum discernimento, mas tb é pena q alguma Igreja coloque os seus dogmas acima de tudo e de todos.
    Não defendo nem condeno a Igreja cegamente; a vida já me ensinou que é bem verdade que não devemos julgar para não sermos julgados.

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