quinta-feira, 22 de maio de 2008

A minha geração rasca - parte I

Eu pertenço à geração rasca. À geração sem valores, sem rumo do futuro, sem responsabilidades, sem espírito de auto sacríficio. E como tal, denominada rasca. Ou pelo menos é assim que algumas pessoas nos querem fazer ver. É muito comum ouvir críticas à minha geração. Regra geral assistimos a um discurso por parte dos nossos pais que consiste unicamente em louvar a sua própria geração através do rebaixamento da nossa. Eu não concordo com este discurso. Acho um discurso superficial e típico de pessoas que não compreendem o mundo. Podemos analisar este discurso pelos seus chavões mestre.

Antigamente as pessoas tinham de trabalhar para conquistar alguma coisa e agora dão-nos tudo e nós não sabemos aproveitar.

É verdade que antigamente as pessoas tinham de lutar muito e passavam por muita miséria e privações. No norte os nossos pais foram obrigados a migrar e a trabalhar horas infindáveis para nos conseguirem dar uma qualidade de vida com a qual não conseguiam sonhar quando novos. Mas também é verdade que com a 4ª classe qualquer pessoa arranjava trabalho. E esse trabalho, regra geral, providenciava dinheiro suficiente para as pessoas viverem com um mínimo de comodidade. Na minha geração uma pessoa com uma licenciatura e uma educação muito superior há dos pais tem mais dificuldade em arranjar trabalho. Muitas mulheres com formação superior tem de trabalhar como caixas e hipermercados a ganhar uns 500 euros por mês ou pouco mais.

Os nossos pais herdaram o mundo pós-guerra. Havia pobreza, sem dúvida. Mas, como é característico da história pós-desastres, havia também um grande desenvolvimento e um incremento na janela de opurtunidades. A minha geração tem de batalhar num mundo, que em determinada altura, dá a impressão de ser fácil e depois passa-nos a fechar todas as portas e janelas que poderíamos ter.

A nossa geração não se caracteriza por ter muita coisa, mas sim por ser obrigada a desenvolver uma capacidade de adaptação muito grande. O mundo muda cada vez mais depressa, a tecnologia obriga sistematicamente a uma actualização à sociedade em que vivemos. Quando tiveram hipótese para isso os nossos pais criaram um mundo consumista baseado no consumo da novidade. Uma consequência disso foi aumentar a sua qualidade de vida e a sua capacidade de compra. E essa capacidade de compra foi direccionada para muitas das inovações tecnológicas actuais.

Quando estudava no sétimo ano aprendi a dactilografar à máquina na escola. Não havia computadores. Quando entrei na faculdade já se falava em começar a apresentar os trabalhos a computador. O que aprendi nos computadores, aprendi sozinho. Actualmente os computadores não são um luxo mas sim uma necessidade. Os nossos pais dão-nos computadores com que eles nem podiam sonhar. Mas é preciso salientar que sem esses computadores muito dificilmente evoluímos na escola. É preciso salientar que os grandes problemas que se nos colocam é saber funcionar com programas de computador além do conhecimento especifíco que nos pedem na escola.

A grande maioria da minha geração sabe funcionar com o Word, ou o Excel. E aprenderam isso sozinhos. Foi necessário para a nossa sobrevivência escolar e vai ser útil para o nosso aperfeiçoamento profissional. Mas não são conhecimentos técnicos. Saber funcionar com o Word ou ganhar dinheiro com os conhecimentos de Word vai uma grande distância. Estas ferramentas são de sobrevivência e adaptação mas não são garante de um futuro com boa qualidade de vida.

1 comentário:

  1. 2008-06-16 21:09:02

    "Antigamente havia participação cívica das pessoas, lutava-se pela liberdade e actualmente deixamos passar ao lado a nossa tão obrigatória participação cívica." Hoje em dia, fala-se demais dos direitos que temos e esquecemos das obrigações que temos. Cada vez mais há um deixa andar por parte, não das pessoas da minha geração, mas das seguintes. exactamente pelos pais tudo darem. Não sentir na pele o que custa "trabalhar" para as obter. É certo que as condições que nos são oferecidas, não são as melhores, como também é certo que há quem não faça para as melhorar e acomode-se... (e agora vou ler a parte II)

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