sábado, 24 de maio de 2008

A minha geração rasca - parte II

Os telemóveis eram uma ideia interessante na cabeça de alguns visionários. Actualmente qualquer criança com 11 anos de idade sabe funcionar com telemóveis. Eu comecei a funcionar com eles quando já tinha 20 anos ou mais. Muito do que os nossos pais nos deram ajudou-nos a ter uma participação activa na sociedade e à nossa inserção na mesma. Mas não fez muito pelo nosso futuro profissional. Este é outro problema: poder ter uma participação activa na sociedade implica ter acesso a tecnologia e saber funcionar com ela, independentemente, da nossa área de saber técnico.

Antigamente as pessoas sabiam o que havia para fazer e agora andamos todos perdidos sem saber o que fazer.

Nos tempo dos nossos pais não havia muito por onde escolher. Se trabalhassem nos campos por volta dos 16 anos já sabiam tudo o que havia para saber. Se os pais morressem eles tinham conhecimentos suficientes para trabalharem no campo e serem independentes. A elite que tinha direito à escola podia escolher uns poucos cursos como medicina, advocacia, etc… Quando acabassem o curso arranjavam trabalho com mais facilidade do que actualmente. Além disso a sua riqueza vinha de nascimento (a não ser que alguém da geração brilhante a aniquilasse).

Eu pertenço à primeira geração onde se entra num curso e se desiste porque não tem saída ou porque não era bem aquilo que gostaríamos de fazer face às enormes alternativas que se nos colocam hoje em dia. É com a minha geração que começa a tornar-se comum tirar 2 cursos superiores para conseguir ter um futuro com um mínimo de hipóteses. Uma pessoa tira um curso e não arranja emprego. Uma vez que ainda tem os pais procura tirar outro curso para aumentar as hipóteses de ter um futuro mais risonho. Os nossos pais nunca tiveram de lidar com esse problema.

No tempo do meu pai era raro o professor que chegasse aos 30 anos e não se encontrasse colocado nos quadros. Actualmente os professores com mais de 30 anos, casados e com filhos ainda andam perdidos em concursos e muito dificilmente chegam aos 30 anos como efectivos.

Antigamente havia participação cívica das pessoas, lutava-se pela liberdade e actualmente deixamos passar ao lado a nossa tão obrigatória participação cívica.

No tempo dos nossos pais a participação cívica passava por comícios, por ir ao café e falar com os amigos, por se inscrever num grupo politico, ou por defender publicamente (ou não!) uma determinada ideologia. Mas a minha geração foi a primeira a ter de saber participar activamente na sociedade tanto no mundo real como no mundo virtual.

Nos dias de hoje visitar uma página da web sobre politica e discutir os nossos pontos de vista sobre os problemas do mundo real é a nossa forma de ter uma participação activa. A televisão por muito boa que seja é baseada numa comunicação unidireccional em que o indivíduo tem um papel passivo. No entanto, a World Wide Web oferece-nos a tão desejada liberdade cultural. Se procurarmos sítios de amigos na net como o Hi5 podemos ver que os grupos que falam de religião ou política são os que mais membros possuem. Não existe desinteresse dos assuntos públicos na minha geração. Existe sim uma procura de novas formas de os comunicar. Eu posso não ir às festas do PSD, ou andar de carro na rua a gritar “Vota PCP”. Mas encontro facilmente um escocês ou um sul africano que queiram falar da guerra do Iraque ou do 11 do Setembro, ou da violação de direitos humanos no Camboja ou mesmo da cor de cuecas da vizinha.

Os problemas com que nos defrontamos tomaram formas diferentes. Os nossos pais preocupavam-se com a ditadura (que conseguiram destruir), preocupavam-.se com possíveis conflitos nucleares entre 2 actores estatais ou com o aumento da qualidade de vida. Nós temos de nos preocupar com o terrorismo (que, acredito ainda cá estará muito depois dos nossos pais se irem embora), com o aquecimento global, com a defesa dos direitos humanos a nível planetário (e não a nível nacional como acontecia, predominantemente, nas gerações anteriores), com a OMC e a sua relação com os países de terceiro mundo e com o cada vez mais difícil multiculturalismo das nossas sociedades.

1 comentário:

  1. 2008-06-16 21:19:18
    Falando abertamente e sem cores politicas o problema do nosso Portugalito é ser "gerido" por "trafulhas". E não falo só na politica, mas também nas grandes empresas. Enquanto não houver honestidade e não se querer o lucro imediato a evolução não se vê. O verdadeiro poder está no conhecimento e não no dinheiro. E fazer entender isto a um "gestor" que não passou da 4 ª classe?!

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