segunda-feira, 26 de maio de 2008

A minha geração rasca - parte III

Outra critica reside na ausência de valores familiares e na falta de respeito pelos mais velhos, na falta de espírito comunitário. No entanto estas críticas são completamente injustas. Nós não temos valores familiares enquanto não os conseguirmos criar. Os valores familiares dos nossos pais foram estabelecidos numa cultura onde os direitos da mulher eram desprezados. As taxas de divórcio era muito baixo porque a mulher não tinha instrução, não tinha capacidade de se sustentar sozinha, tinha baixos níveis de instrução e elevado número de filhos o que a tornava ainda mais dependente do homem, e vingava uma cultura maioritariamente religiosa, fortalecida pela ignorância cientifica que grassava com a maior impunidade. Basta falarem com mulheres de 50 e 60 anos que vivem nas aldeias para saberem ao que me refiro. Mas nesta geração, as mulheres tem dinheiro para se sustentarem, tem direito de dizerem com quem querem constituir família e se querem constituir família ou mesmo se querem manter aquele agregado familiar e tem direito de atacar o suposto direito da religião em nos dizer como deveríamos viver a nossa vida. Também nos é dada uma maior liberdade sexual que não nos limita estupidamente como a religião fazia aos nossos pais e aos nossos avós.

Neste sentido, a nossa liberdade sexual e cívica, foi uma mais valia, apesar da alteração que implicou no seio familiar. Já passou o tempo do meu avô em que se colocava ferro em brasa na vagina das raparigas que eram apanhadas a masturbarem-se. Já passou o tempo (pelo menos no nosso país) onde os homossexuais eram condenados à prisão ou a castração química como no tempo dos meus pais. Qualquer país que condene os homossexuais à morte (como o Irão) é visto como fundamentalista e desumano. Irónico ter um tipo de uma geração fundamentalista e desumana a intitular-nos de “geração rasca”.

A Igreja, servia como ponto de encontram para várias pessoas de várias gerações a um nível que não é comum nos dias de hoje. Lembro-me várias vezes de como os pais de alguns amigos meus me contavam que iam para a Igreja para conhecer raparigas. E quando as pessoas não se viam nas Igrejas viam-se nas feiras ou noutros eventos mais raros, como bailes. Mas estas festas eram frequentadas por pessoas de diversas faixas etárias. Hoje em dia ninguém vai à Igreja para engatar mulheres.

As catedrais da minha geração só funcionam de noite. Diversificámos as nossas formas de contacto e especificámo-las. Abriram discotecas que são frequentadas maioritariamente por jovens e não por pessoas mais idosas. Mesmo nas discotecas começou a especificar-se o tipo de música e a idade. Existem locais de música rock, Punk, House, Latina, etc… casas para pessoas com 18 anos ou casas que preferem clientela com mais de 30 anos. O curioso da sociedade na minha geração é que desenvolveram uma vida social totalmente independente das dos pais (o ano novo é passado com os amigos e não com os “cotas”!!! Os próprios “cotas” já decidem ir viajar e conhecer outros países!!).

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