A inutilidade da reza

O Advogado fica um pouco abismado com a capacidade que as pessoas têm de fazer rezas inúteis. Sejamos honestos, para o Advogado qualquer reza é inútil. Mas existem algumas rezas que ainda são mais inúteis.

Quando o João Paulo II morreu, o Advogado teve uma colega que foi até Fátima para rezar pela alma do Papa. Além dessa colega imensas pessoas se dirigiram a Fátima para rezar pelo falecido. Fizeram-se missas em todo o mundo. Com milhões de fiéis a rezar pela alma do morto.

Eu não sei se os católicos sabem mas o Papa é o representante máximo de Deus na Terra. Supostamente ele já tem o céu garantido. Ele não precisa que rezem por ele. O céu deve estar repleto de rezas inúteis para almas que já lá se encontram.

Soube, através dos meandros do Inferno, que no Céu até já existe salas especiais onde se podem encaixotar as rezas inúteis. Os anjinhos todos estão a dar em loucos com tanta reza para almas que já vivem no céu.

O mais ridículo não são as rezas para aquelas almas que já se encontram no céu. O mais ridículo está na quase ausência de rezas para aqueles que realmente precisam. Quantas pessoas rezam pela alma de Hitler ou Himmler? Seria interessante ver centenas de milhares de católicos dirigirem-se a Fátima para rezarem pela alma de Hitler. Aí está uma alma que realmente precisa de rezas. Mas ninguém reza por ele.

Não é totalmente verdade. Sempre existem algumas pessoas que rezam por ele. Mais não seja porque sempre existiu uma grande cumplicidade entre a extrema-direita e o catolicismo. No entanto, outros diatdores sanguinários como Staline ou Mao Tsé Tung vêem-se realmente fodidos para receberem uma reza. Mao Tsé Tung então só recebe uma reza de século a século.

Não só são ditadores assassinos como eram contra a religião católica. A maioria das pessoas que gostam deles não gostam da religião e não tem hábito de rezar. Aquelas que tem hábito de rezar não lhes rezam porque estão muito ocupadas a rezar às almas que já se encontram no céu.

Supostamente reza-se para que as almas entrem no céu. Mas só se reza às almas que já lá se encontram e nunca às almas que se encontram no inferno. Quanto muito pessoas como Hitler ou Pol Pott tem de se contentar com rezas indiscriminadas do género “rezemos por todos os pecadores”. Enquanto a alma de João Paulo segundo tem milhões a rezarem pela alma dele, os outros tem uma reza para dividirem por todos. É realmente injusto.

Obviamente que nenhum crente que se respeite não vai compreender até que ponto as suas acções são inúteis e desprovidas de sentido. E muito menos dos paradoxos a que as suas acções levam.

Vamos ver: se devemos rezar por uma pessoa para ela entrar no céu, então é porque essa pessoa cometeu diversos pecados dos quais precisa ser remediada – e obviamente que perder tempo a contar contas agarradas a um fio vai fazer com que a infinita misericórdia de Deus entre em acção – mas supostamente os pecados do Papa devem ser mínimos para ele precisar de tantas rezas.

Rezar por uma alma não é mais do que dizer: “eu não confio muito na vida daquele sacana. O melhor mesmo é lançar aqui umas rezas para ele não se cozer na água escaldada do Inferno”. A pressa com que as pessoas vão rezar só indica que ele deve mesmo ter sido pecador. Mas então o que dizer dos outros pecadores a quem quase ninguém reza?

Fica a dúvida existencialista de qualquer crente que goste de perder tempo a rezar: rezar para aqueles que não precisam mas que nós admiramos e desacreditá-los com a própria reza que o deveria fazer entrar no céu. É realmente assustador.