segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Papa, homossexuais e sociologia barata

Não podia faltar. Um Natal sem alguma barbaridade religiosa não é Natal. Não falo daqueles comentários de Jornal onde os bispos falam do menino Jesus e de alguma lição teológica que tiraram de uns textos altamente manipulados ao longo dos séculos ou de uma história que nunca aconteceu mas em que toda a gente acredita. Neste momento falo daquele energúmeno que se considera o mais alto representante de Deus na terra. Sim, o nazi homofóbico que anda de saias chamado Rat(o)zinger.

Em pleno Natal, quando toda a gente procura não falar daqueles que não gosta e desejar votos de boas festas, quando todos procuram encontrar algo de bom neles, a carcaça senil que rege o Vaticano veio a público atacar os homossexuais. Rat(o)zinger parece querer dar uma nova filosofia de intervenção pública à Igreja. Se ao longo dos últimos anos a Igreja vem moderando o seu discurso público relativamente à constante discriminação contra os homossexuais, deixando de falar abertamente deles e focando-se mais nos valores tradicionais da família, agora o Papa decidiu-se por uma abordagem mais directa e agressiva.



Infelizmente continua com os mesmos argumentos fecalóides que caracterizam o seu discurso (e o de muitos religiosos) relativamente aos direitos cívicos dos homossexuais. Para o Papa a homossexualidade é um perigo tão grande para a sobrevivência da espécie quanto as alterações climáticas (discursos sobre apocalipse ambiental andam na moda… e analogias parvas também).

O argumento da santificada “lei natural” lá se encontra. De acordo com este senhor os homossexuais violam a lei natural que foi instituída por Deus, com o sentido de salvar o Homem da extinção. Em termos mais leigos, isto significa que homossexuais não podem ter filhos, logo são contra-natura. A História já devia ter ensinado ao Vaticano que ciência não é o seu forte. Não há nenhuma lei natural que diga que os homens só devem ter sexo com mulheres. Existe sim, a lei da discriminação, da intolerância e da estupidez religiosa que berra este tipo de disparates. Seria extremamente engraçado ouvir o Papa fazer uma introspecção sobre a sua “lei natural” e a abstinência sexual dos padres (algumas vezes mais teórica do que prática e nem sempre com parceiros do mesmo sexo ou em idade reprodutiva).

O seu discurso focou-se numa definição de género muito usada actualmente. Segundo esta linha de pensamento existe uma diferença entre pertencer a determinado sexo e a identidade real da pessoa. Feministas e sociólogos que me desculpem, mas para dizer merda já temos um papa. Não precisamos de um coro de Papas.

Na realidade isto já começa a ser confuso porque pela sociologia, género tem a ver com a construção social do ser humano e ninguém é construído socialmente para ser homossexual ou para nascer com corpo de homem e desejar ser mulher. Por outro lado, apesar de não existir uma explicação convincente da homossexualidade, é de reparar que a maioria das pessoas que nasce de um sexo e deseja ter outro sexo já demonstra essas características desde a infância (ou seja, já vem construída socialmente…). Sabemos que existem alterações genéticas ou bioquímicas associadas. Não significa isto que muitos homossexuais sejam pessoas doentes ou com deformidades genéticas.

O problema é que todos nós temos a ideia que o homem se define pelos comossomas XY e a mulher por XX. Na realidade existem mulheres XY e homens XX. A genética é mais complicada do que parece à primeira vista. As hormonas ainda vêm complicar mais o problema. Existem homens com excesso de hormonas femininas e mulheres com excesso de hormonas masculinas. E sabe-se, hoje, que alterações hormonais no ser humano apresentam impacto no comportamento; a testosterona está associada a comportamentos agressivos, baixos níveis de oxitocina estão associados a dificuldade de manter relações duradouras, baixos níveis de serotonina estão associados a casos de depressão e suicídio, etc…

Digo isto, porque devemos ter cuidado com algumas teorias. Afirmar que pertencer a um determinado sexo é diferente da identidade real da pessoa (já nem sei se isto é alguma indirecta aos padres!) é basear as nossas afirmações numa definição de sexo popularucha e pobre.

Por outro lado é uma lapalissada monumental, na medida, em que as diferentes identidades que uma pessoa possa ter não se resumem todas ao sexo. Quando me considero um defensor do direito das mulheres não estou a reduzir a minha identidade ao sexo. Ser benfiquista ou gostar de ler livros científicos ou defender uma sociedade laica fazem parte da minha identidade real e nada disto tem a ver com sexo.

Pelos vistos a guerra entre Opus Dei e Opus Gay está reduzida à discriminação e a análises de sociologia barata comprada na loja dos 300 (o que terão os chineses a dizer disto?...). Curiosamente seria interessante saber o que teria acontecido se estas afirmações fossem feitas por um qualquer clérigo muçulmano. Parece que o Vaticano se aproxima cada vez mais de Meca.

Gostaria de ver como o Papa justificaria ao menino Jesus (aquele menino que ensina o amor, a tolerância e o respeito universais… e que provavelmente nunca existiu) o seu discurso fomentador de ódio discriminatório e o facto de não ter apoiado a petição que 66 países da ONU organizaram contra a descriminalização universal da homossexualidade. Com espírito natalício (eu adoro festas pagâs) aqui deixo os meus votos de um feliz natal… para os homossexuais, o Papa e a sociologia barata…. Os outros que se F….

2 comentários:

  1. Que alívio saber que você é tão benevolente! Apesar de todos os meus defeitos, ainda me aceita como amiga...rsrs. Mas tenho pelo menos o mérito de não ser papista e ser absolutamente contra o barateamento da sociologia. Quanto mais cara ela for, melhor eu me darei...rsrs. Quanto à homossexualidade, penso que, entre muitas outras características, é uma das menos significativas na definição total da identidade de alguém. É uma idiotice julgar quem quer seja pelo que ela faz com seu próprio corpo, o ônus e/ou bônus será apenas dela.

    Hasta la vista,

    Janete

    Abraços

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  2. está a ver como já somos grandes amigos....lol

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