sexta-feira, 3 de abril de 2009

Multiculturalismo e choque de valores - parte I

Um dos grandes desafios da sociedade moderna consiste em saber como manter uma sociedade coesa quando os seus constituintes não se vêm ligados por uma cultura comum. A língua, os valores humanos, a cor, a religião, os interesses académicos, etc… são importantes para a definição do “eu” e da forma como esse “eu” deve interagir socialmente.

O multiculturalismo tem a vantagem de obrigar a pessoa a identificar-se com mais identidades. O aumento do número de identidades com que a pessoa se identifica (culturais, desportivas, humanas, académicas, ideológicas) implica uma maior coesão da sociedade e participação dos seus diferentes membros. No entanto, acarreta, também um maior desafio e uma ameaça à sustentabilidade dessa mesma sociedade.



Os choques de valores muitas vezes existentes entre diferentes culturas, numa mesma sociedade, pode minar a confiança social dos seus membros. O problema não é se 2 culturas podem existir conjuntamente, mas sim, sobre que tipo de regras elas devem co-existir. Definir essas regras é trabalho da nação acolhedora e isso só por si, é visto em algumas culturas, como um acto abusivo.

Actualmente o Ocidente tem de travar uma intensa luta interna e externa pela sua luta pelos respeito por todas as culturas e pela salvaguarda da sua própria cultura.

A luta interna advêm da crença ocidental que todos os homens são criados iguais e que a raça, a religião ou o sexo não deverem ser motivos de discriminação (evidentemente que estes valores, em muitos casos, são mais teóricos do que práticos). Mas como respeitar os valores culturais externos à nossa cultura quando eles agridem a nossa própria cultura? Recentemente na Alemanha uma mulher colocou o marido em tribunal por este a ter agredido. A juíza deu razão ao marido muçulmano, uma vez que faz parte da cultura dos muçulmanos. Mas a mulher era alemã (e não muito inteligente) e o caso passou-se na Alemanha. Como conciliar a nossa luta pela defesa dos direitos da mulher e o nosso respeito pelas outras culturas?

Outro exemplo ainda mais macabro vem da Inglaterra. Segundo constou (não sei como ficou o caso) o primeiro ministro da altura, Tony Blair, pretendia eliminar o holocausto do ensino escolar por este ofender a comunidade muçulmana. Como conciliar os nossos discursos contra o fundamentalismo islâmico (contra o Irão, por exemplo) e, simultaneamente, fundamentar a nossa cobardia em esconder verdades históricas para não ofender os mesmos muçulmanos?

Até agora, só o primeiro ministro Australiano parece ter tido a coragem politica suficiente para defender a sua cultura. O seu manifesto contra as queixas da comunidade muçulmana foi directo e incisivo. Não colocou em causa a cultura muçulmana mas deixou bem claro que uma vez que existiam diferenças culturais na Austrália vingaria a cultura dominante e fundadora.

Outro dos grandes problemas na luta interna advêm do facto de não poder discutir livremente determinados assuntos sem ofender o discurso politicamente correcto. Portugal tem tido alguns problemas desse género: como abordar a questão da imigração africana sem ser acusado de racismo? Como lidar com as diferenças do núcleo familiar entre as famílias portuguesas e africanas sem ofender o discurso politicamente correcto? Como abordar as consequências da educação de determinados grupos sem entrar no rótulo da xenofobia?

Sem comentários:

Enviar um comentário