quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Papa, a Virgem e o Comunista

Para nós, portugueses, é um pouco constrangedor falar da tentativa de assassinato do Papa João Paulo II em Fátima. Mais não seja porque Fátima faz parte do território nacional a que chamamos o nosso Portugalito. O Advogado do Diabo não se limita a barreiras geográficas (decerto reparou que eu falo do meu alter ego na 3ª pessoa? Chama-se a isto complexo de jogador de futebol. Estou a tentar imitar o Miguel Veloso!).

Corria o ano de 1981 quando um turco, Mehemed Ali Agca, disparou 3 tiros contra o Santo Padre. Curiosamente foi no mesmo dia de uma das aparições da Virgem aos 3 pastorinhos: 13 de Maio (curiosamente também foi no dia de baptizado da minha irmã. Será que existe alguma relação cósmica desconhecida? A única coisa que sei é que o baptizado foi estragado pela noticia do atentado!). Segundo o Papa a sua vida fora salva pela Virgem Maria, que bondosamente teria desviado o percurso das balas. Assim, em vez de morrer ficou com uma bala na mão, outra no ombro e outra no estômago. Curiosamente o candidato a assassino papal disse que não conseguia apontar bem para o Papa porque ele tinha uma criança ao colo. Ficamos sem saber se foi a criança ou a Virgem Maria que o salvou.

Mas isso também não interessa para nada. A única coisa importante é saber que a Virgem desviou as balas e salvou João Paulo II. Está explicada a sobrevivência do Papa. Infelizmente a Virgem não é muito dada a entrevistas. Caso contrário poderia explicar porque não avariou a Browning que Agka disparou evitando sofrimento desnecessário ao papa e fiéis. Outro aspecto importante seria poder explicar a razão que a leva a intervir caridosamente nuns casos e a não fazer absolutamente nada noutros. Reparem no próximo excerto que transcrevi de uma biografia:

«A bala realizara um trajecto invulgar e afortunado, atravessou o pescoço da esquerda para a direita, mesmo em frente à laringe e atrás do esófago, sem danificar outros vasos sanguíneos no pescoço. Se a bala se desviasse um milímetro em qualquer sentido, Vladimir Ilyich morreria de certeza[i]»

Como reparou, isto é uma descrição da tentativa de suicídio que Lenine sofreu. Se as mãos caridosas da Virgem tivessem desviado a bala 1 milímetro que fosse, Lenine teria morrido. Alguns comunistas poderiam ficar tristes. Quando pensamos nos milhões de mortos, na tortura, na fome, no desespero daqueles que nasceram, sofreram e morreram às mãos dos regimes comunistas, então sem dúvida, que a morte de Lenine teria sido uma bênção. A tristeza de uns poucos comunistas não afectaria o sono a ninguém.

A China nunca teria tido a sua revolução comunista (perto de 80 milhões de mortos), os russos não teriam de chorar perto de 60 milhões de mortos e a URSS nunca teria ajudado a planear o assassinato do Papa João Paulo II. Não consigo compreender: a Virgem salva um mas nada faz para salvar milhões. Se os caminhos de Deus são misteriosos, então os da Virgem Maria são de uma complexidade estonteante. Pessoalmente, creio que os deuses andam loucos.

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS




[i]
VOLKOGONOV, Dimitri; LENINE UMA NOVA BIOGRAFIA; ed. Edições 70, Lda.; ISBN: 978-972-44-1475-1; 1ª edição, 1994, Lisboa

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