sexta-feira, 3 de abril de 2009

Multiculturalismo e choque de valores - parte II

A nossa capacidade de criar politicas que permitam a inclusão social de grupos minoritários pode ser a resposta a outro desafio. Este aspecto, muito apreciado no discurso politico, e mal conduzido na realidade prática, tornou-se extremamente importante nos dias de hoje. Os ataques terroristas em Espanha e na Inglaterra não foram conduzidos por afegãos mas sim por filhos de imigrantes que lucraram de todas as liberdades dadas pela sociedade Ocidental mas que nunca conseguiram inserir-se totalmente. A não participação activa social dessas minorias é um grave sintoma de exclusão social. Na Inglaterra culminou com atentados à bomba.

A França sofreu quando os pobres dos subúrbios se revoltaram naquilo que eu gosto de chamar “A revolta dos excluídos”. Esses pobres eram jovens e filhos de imigrantes (na grande maioria do norte de África) que nunca conseguiram encontrar o seu lugar na sociedade. Na França a não inclusão social culminou com uma revolta dos jovens.



Na luta externa (fora das nossas fronteiras) surge um problema semelhante: como promover o respeito pelos nossos valores e respeitar simultaneamente os valores de outras sociedades? Neste caso coloca-se uma outra questão: como definir o que nós somos? Como definir o que são os outros? Qual a fronteira que delimita a nossa vontade de dialogar, para defender os nossos valores, ou a nossa vontade de lutar? O respeito pela cultura dos outros implica respeitar-mos o hábito, existente em algumas zonas de África, de cortar o clítoris às mulheres? Qual o tipo de relação comercial, militar, cultural, humanitária que se deverá estabelecer com esses países?

O maior problema na luta externa pelos nossos valores nasce quando os nossos valores são exportados com o intuito de prejudicar. Apesar dos discursos políticos acerca do desejo de acabar com a fome em África, ela continua. Qualquer pessoa minimamente bem informada, sabe que esses discursos são desprovidos de qualquer desejo real de eliminar o problema. A fome, a SIDA e a malária, em África, podem ser facilmente combatidos.

Para as pessoas de outras sociedades que ouvem os discursos dos nossos políticos e que depois têm de sofrer as consequências das suas acções a nossa cultura parece superficial e falsa. Uma prova muito convincente disto mesmo são os recentes estudos de opinião pública, efectuados em vários países muçulmanos, que demonstraram claramente que o que realmente cria ódio e desprezo pela nossa cultura, não é a nossa cultura em si mesma mas sim a politica externa. Em particular a politica externa Norte-Americana.

O discurso do Ocidente sobre valores humanos vem acompanhado do apoio público e do patrocínio a ditadores sanguinários. O nosso discurso sobre liberalização económica e produção de riqueza para todos manifesta-se, na prática, por politicas económicas discriminatórias que exploram os mais pobres em beneficio dos mais ricos.

Deve ser difícil, para um muçulmano, ouvir o presidente dos EUA falar de democracia e paz, sabendo todo o apoio que ele dá a Israel. Apesar do governo palestiniano ter muita culpa pelo estado da sua pequena nação, é óbvio para qualquer pessoa que se existe guerra e pobreza e violação dos direitos humanos é porque os EUA não estão minimamente interessados em acabar com isso. Uma politica conjunta dos EUA, EU e Rússia facilmente acabaria com a guerra (ou genocídio?) entre Israel e a Palestina.

Os nossos políticos parecem muito interessados em fortalecer a democracia interna e em criar ditaduras externas. A produção da riqueza interna apesar de injusta (80% da riqueza mundial pertence aos EUA, por exemplo) é mais importante que a distribuição justa dessa mesma riqueza.

Se muitos dos nossos problemas culturais não são resolvidos não é porque não tenham resolução. É porque cá no fundo nós estamos numa luta constante para saber quais são esses valores. A justiça, e a liberdade são bons valores quando nos servem. Ainda temos de saber fazer a distinção entre aquilo que nos serve ou aquilo que é verdadeiramente justo. O grande choque de valores encontra-se dentro de nós.

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