segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Ciência e Moral - parte I

James Watson, prémio Nobel da Medicina por ter descoberto a dupla hélice do DNA, juntamente com Francis Crick, foi despedido após ter feito afirmações relativamente a uma suposta diferença de inteligência entre a raça branca e a raça negra.

Não venho neste texto falar sobre diferenças de raças ou sobre Watson mas sim sobre um problema de maior relevância. Este problema aborda as ligações da ciência com a moralidade e a liberdade de pensamento que os cientistas devem ter.

A ciência consiste numa forma de pensar que pretende descrever e compreender o mundo em que vivemos. Não é função da ciência definir os nossos valores morais. Um cientista não devia ter medo de abordar assuntos científicos que ofendem a moralidade vigente. Poderão a ética e a moral definir os campos científicos a estudar? Esta questão não tem resposta fácil.

Existem as comissões bioéticas para estudar problemas como o aborto, a inseminação artificial, a clonagem, etc… Poderá a ética dizer-nos que a clonagem não deve ser estudada? Ou só pode ser estudada a clonagem em animais? A função da ciência é compreender como a clonagem funciona e quais os princípios de biologia subjacentes ao processo. Da mesma forma a ciência pode estudar o aborto sob o ponto de vista fisiológico, pode desenvolver novas técnicas ou medicamentos de aborto ou de prevenção do aborto assentes nos conhecimentos de biologia e tecnologia. Não é função da ciência moralizar sobre as questões (apesar do cientista ser um ser moral com opiniões próprias). A moral tem o direito de dizer se tal tecnologia ou conhecimento deve ser aplicado. Mas não tem o direito de dizer à ciência quais os campos a estudar.

Pode limitar esses campos de forma a salvaguardar a dignidade humana seja através da proibição de experiências em seres humanos que possam ser danosas para os mesmos seja limitando as áreas de experiência (testes nucleares de novas tecnologias, utilização de plantas geneticamente modificadas que coloquem em risco a biodiversidade, etc…).

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