domingo, 3 de agosto de 2008

Ciência: Abertura de espírito e falta de imaginação - parte I

Muitos aderentes dos meios esotéricos e de abordagens mais esotéricas das medicinas complementares (homeopatia, passagem do Qi, astrologia, cartomancia, reiki, curas energéticas, curas espirituais, etc…) tem por hábito criticar a ciência pelo seu cepticismo relativamente a muitas das afirmações destas práticas. Entre as suas muitas criticas contam-se (1) a falta de abertura de espírito da comunidade científica e (2) diminuição de imaginação dos cientistas relativamente à imensa capacidade imaginativa dos proponentes de muitas destas correntes de pensamento.

Destas 2 afirmações, a segunda é aquela que se encontra totalmente errada e a primeira é bastante discutível. Mas comecemos pela segunda afirmação. Será que os cientistas têm realmente falta de imaginação? De criatividade? Para discutirmos este ponto de vista vamos fazer uma pequena experiência. Tente o leitor imaginar uma bruxa sentada no seu pau de vassoura a voar pela noite dentro (tipo remake de ET medieval!). O leitor conseguiu fazer isto? Ok. Vamos continuar. Tente imaginar pessoas com capacidades telecinéticas (mover objectos com o poder da mente), ou animais que falam, ou aparições de espíritos e deuses. Aposto que também conseguiu fazer isto.



Na realidade não há nada de inventado pelos movimentos esotéricos que as pessoas não consigam imaginar. Desde o poder dos astros ao poder das cartas. Não só conseguimos imaginar como gostamos de acreditar.
“Eu acredito que ela consegue ver o futuro com as cartas!”
“Eu acredito que os astros podem ter alguma influência na nossa personalidade!”
“Eu acredito que as energias pelas quais funciona a Astrologia, ou a acupuntura, ainda não foram descobertas pela ciência ocidental!”

Todos nós conseguimos imaginar algo a que chamamos Deus (e também damos forma humana!) que com a sua mão milagrosa tudo pode fazer. Basta observar que as divisões existentes no céu são uma cópia das observadas nas sociedades terrestres.

Agora vamos fazer outro exercício. Pense no tamanho do universo.
“Ainda não conseguiu? Ok, eu espero!”.
“Vamos fazer o seguinte. Eu vou brincar com o meu sobrinho e, depois, quando voltar diz-me se conseguiu, pode ser?”
“Então ainda não conseguiu imaginar o tamanho do universo?”

Sabendo que o nosso universo visível tem uma idade de 14 mil milhões de anos, que existem perto de 200 milhões de estrelas e que existam mais umas centenas de milhões de galáxias, cada uma, com centenas de milhões de estrelas e separadas por milhões de anos luz fica realmente difícil imaginar o tamanho do universo.

O que acontece para o tamanho do universo acontece para o átomo. Eu fazia o mesmo teste ao leitor, mas o meu sobrinho já foi embora e não acredito que a minha mãe queira brincar aos legos comigo. Basta um pouco de história para saber que as grandes revoluções de ideias foram feitas pelos cientistas e não por pessoas esotéricas. Desde a teoria da gravitação universal, à mecânica quântica, à teoria da relatividade geral ou ao universo inflacionário de Allan Guth, sem esquecer a teoria da selecção natural.

O que muitas vezes torna o esoterismo tão apelativo é o facto de usar uma linguagem comum e conceitos que são facilmente imaginados pelas pessoas. A ciência possui uma linguagem técnica difícil de entender, fundamenta-se num grande conjunto de conhecimentos para os quais o senso comum, muitas vezes não serve. Posso pedir ao leitor para imaginar uma força cósmica que influência todas as coisas vivas e vai conseguir faze-lo. Mas pensar na teoria da gravitação universal fica mais difícil. É difícil convencer uma pessoa quando ela não fala a mesma língua que nós.

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