domingo, 31 de agosto de 2008

Merda dos títulos

Os portugueses são excepcionais. Não estão minimamente interessados em conhecimento mas todos querem títulos. Eu sou o senhor tal… sou um gajo importante.

Desde que terminei o curso que os meus doentes e outras pessoas que me conhecem tem a mania de me chamar de senhor doutor. Eu digo sempre que o meu nome é Advogado do Diabo e dispenso títulos de doutores. Mas as pessoas parecem sofrer de orelhas mocas.

Decidi escrever este pequeno excerto de pura literatura protésica quando li uma reportagem sobre o novo amor do César Peixoto. Sabem de quem falo? É daquele gajo que andou a comer a boazona cujo nome nem lembro. Uma vez que me lembro do gajo e não me lembro do nome dela presumo que seja uma manifestação da minha homossexualidade latente.

De acordo com essa reportagem este jogador já teria encontrado o amor nos braços de uma professora. Umas linhas mais à frente chegamos à conclusão que afinal ela é auxiliar de acção educativa. Este termo altamente intelectualizado quer dizer mulher a dias. Mulher que faz limpezas. Mas como o que importa são os títulos ela é auxiliar de acção educativa.

Nos hospitais as mulheres a dias são tratadas por auxiliares de acção médica. Fazem o mesmo que as auxiliares de acção educativa mas em vez de lavarem o corredor de uma escola lavam os corredores hospitalares. Podemos chamar-lhes mulheres a dias? Nem pensar. Elas são auxiliares de acção qualquer coisa. É, sem dúvida, um nome mais sonante. É humilhante e difamante pensar nelas como mulheres a dias. O trabalho é o mesmo, o nível de conhecimentos é o mesmo… mas o que realmente importa é o título. Em Portugal um burro pintado de oiro passa por cavalo.

Proponho então que se adopte esta nomenclatura para todas as mulheres que fazem limpezas. Porque é que a minha empregada doméstica há-de ser só uma mulher a dia quando se pode chamar auxiliar de acção particular? Ou melhor ainda: empresária de acção particular?! Uma vez que ela ajuda a minha mãe que é enfermeira também se pode chamar auxiliar particular de acção de enfermagem. Fica bonito. No fundo é uma auxiliar por conta própria. É a sua própria patroa.

E as putas que nos limpam as teias de aranha deviam ficar conhecidas como auxiliares de acção educativa sexual. Neste caso temos uma auxiliar, vertente, acção educativa, mas com especialização no sexo. É uma auxiliar especializada. E todos sabemos como o trabalho especializado faz falta no nosso país.

Por outro lado tinha uma grande vantagem, novamente no mundo do futebol nortenho. É que se as putas fossem auxiliares especializadas então o Pinto da Costa já podia aparecer em público com mulheres respeitáveis. “A Carolina é uma puta” afirmam alguns. Outros poderiam rapidamente contrapor: “perdão, mas esta senhora é uma auxiliar especializada”. Ficava mais bonito.

As pessoas vivem pela imagem que podem ter na sociedade e não pelas suas próprias potencialidades. Este tipo de títulos só serve para as pessoas se enganarem a elas mesmas e não serem obrigadas a olhar para a merda que as rodeia. Não devemos ter vergonha daquilo que fazemos, devemos ter vergonha daquilo que não fazemos e que deveríamos fazer. A ausência da procura do conhecimento devia ser a nossa grande vergonha. Mas se tivermos um título bonito o que é que isso interessa? Pessoalmente sinto mais respeito pelas empregadas que se esforçam por ganhar dinheiro e dar uma educação correcta às filhas e filhos do que por aquelas gajas que se estão a borrifar para tudo e querem títulos bonitos para mostrarem em sociedade.

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