segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Mulheres e igreja

«é preferível a malícia de um homem ao bem realizado por uma mulher» Livro do Eclesíastes, citado por Juan Árias, A BÍBLIA E OS SEUS SEGREDOS, pág. 65

Desde a sua génese e baseada nas ideias do seu fundador, São Paulo, que a Igreja Católica vem sistematicamente ostracizando as mulheres e relevando-as para um segundo plano existencial no seio da sociedade. Apesar das ideias progressistas de Jesus Cristo a este respeito, com quem as mulheres tinham uma relação mais igualitária, a Igreja decidiu seguir São Paulo a este respeito. Para Paulo as mulheres tinham um lugar especial, como seres inferiores e subservientes[i].

As ideias de São Paulo sobre as mulheres eram bastante claras. Elas encontram-se nas suas cartas. Na carta aos efésios aparece escrito: “as mulheres sejam submissas aos seus maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da Igreja – Ele, o salvador do Corpo. Ora. Da mesma forma que a Igreja se submete a Cristo, assim as mulheres se submetem aos maridos em tudo.”

Na 1ª carta aos coríntios, o texto faz São Paulo afirmar:
“Como acontece em todas as assembleias de santos, as mulheres estejam caladas nas assembleias, pois não lhes é permitido tomar a palavra e, como diz também a Lei, devem ser submissas. Se quiserem saber alguma coisa, perguntem em casa aos maridos, porque não é conveniente para uma mulher falar na assembleia.”

Na 1ª carta a Timóteo é afirmado:
“A mulher receba a instrução em silêncio, com toda a submissão. Não permito à mulher que ensine, nem que exerça domínio sobre o homem, mas que se mantenha em silêncio….”[ii]

Estas palavras foram levadas a sério pela corrente fundamentalista que originou a Igreja Católica, que se deu ao trabalho de perseguir e aniquilar todas as confissões cristâs que oferecessem às mulheres lugares de relevo. Sabemos hoje que existiam seitas cristâs onde estas podiam usufruir de papeis activos e onde eram livres de ocupar lugares de relevo.

O papel da mulher viu-se severamente limitado na Igreja Católica devido à leitura cataclísmica da queda de Adão e do Pecado Original, teoria criada no século IV d.C. e completamente desconhecida para Jesus, os apóstolos ou mesmo São Paulo[iii]. Nem os judeos, nem os cristãos ortodoxos, alguma vez fizeram este tipo de leitura do texto. Mas a verdade é que ele foi essencial para o pensamento católico durante séculos. A partir de agora a mulher poderia ser responsabilizada pelo Pecado Original.

Tertuliano e Santo Agostinho partilhavam desta opinião. Tertuliano terá escrito:

“Do you not know that you are each an Eve? The sentence of God on this sex of yours lives in this age: the guilt must of necessity live too. You are the devil´s gateway; you are the unsealer of that forbidden tree; you are the first deserter of the divine law; you are she who persuaded him whom the devil was not valiant enough to attack. You so carelessly destroyed man, God´s image. On account of your desert, even the Son of God had to die.”[iv]

Santo Agostinho, por seu lado, escrevia:

“What is the difference… whether it is in a wife or a mother, it is still Eve the Temptress that we must beware of in any women”.[v]

De acordo com Karen Armstrong o próprio Santo Agostinho se interrogava acerca da razão da existência das mulheres. Escreveu:

“if it was good company and conversation that Adam needed, it would have been much better arranged to have two men together as friends, nor a man and a women”[vi]

A estupidez da teologia católica – ou de outra religião qualquer – não se fez esperar e transformou-se em movimento social persguindo outras seitas cristâs que defendiam um papel mais interventivo para a mulher que acabaram perseguidas e aniquiladas. A visão machista e fundamentalista da Igreja Católica imperou no ocidente com consequências desastrosas ao longo da sua história e que ainda hoje se fazem sentir.

As mulheres foram proibidas de curar os doentes ou de servirem como parteiras. O Malleus Maleficarum, por exemplo, afirma: “ninguém prejudica a Igreja mais que as parteiras”[vii].

A fobia contra o século feminino foi de tal forma encorajado que influenciou a própria história da Medicina no Ocidente. Laurent Joubet, médico do século XVI, defendia que:

“indiferente é, por si só, o sémen… muitas vezes, ele degenera em fêmea, por causa do frio e da humidade… e pela superabundância de sangue menstrual cru e indigesto[viii]”.

Actualmente a mulher continua a ter um papel submisso na Igreja Católica e todos os movimentos de defesa e emancipação da mulher – independência económica, liberdade sexual, divórcio – receberam a oposição directa da Igreja Católica. O ódio é tanto às mulheres que é preferível terem mais padres pedófilos a padres mulheres. A pedofilia não leva à excomunhão mas aceitar ordenar uma mulher leva à excomunhão.

O padre Roy Bourgeois foi excomunhado após ter ordenado padre uma mulher. Como afirmou na altura:

"Nearly 5,000 Catholic priests [in the U.S.] have sexually abused over 12,000 Catholic children…but they were not excommunicated,[ix] "

A questão levantada por Bourgeois:
"Who are we as men to say that our call to the priesthood is valid, but yours as women is not?[x]

recebeu a seguinte resposta da irmâ Mary Anne Walsh, porta-voz da Conferência de Bispos Católicos dos EUA:

"The church believes that the intent of Jesus' founding of the priesthood is that it was reserved for men,[xi]"

No entanto. Outra mulher excomungada pela Igreja e que falava em nome do Grupo Mulheres-padre da Igreja Católica Romana respondeu:

"Jesus never ordained anyone… And in the tradition, women were ordained deacons, priests and bishops for the first 1,200 years.[xii]"

Enquanto estas discussões continuam, o Vaticano continua sem excomungar padres culpados de assassinato ou de pedofilia, mas excomunga, sem receio, qualquer homem que queira ordenar uma mulher, ou mulheres que protestem e queiram ser ordenadas padres. O padre Gerald Robinson, por exemplo, culpado de assassinar uma freira de 71 anos nunca foi excomungado.

NOTAS DE FIM DE TEXTO


[i] “Até que finalmente Jesus tirou o pó da imagem mais positiva que da mulher tinham tido os patriarcas.

Porém, isso pouco durou. S. Paulo, que manteve algumas divergências com os apóstolos, que tinham conhecido Jesus pessoalmente… voltou a colocar a mulher num lugar subalterno. A Igreja acabou por seguir este caminho. Negou à mulher o acesso ao sacerdócio, sublimou a castidade, ao ponto de sancionar o celibato obrigatório dos sacerdotes, obrigou de novo a mulher a tapar a cabeça na igreja, como símbolo de submissão e fez da virgindade e da pureza da mulher o grande estandarte da santidade.”

Jua Árias, A BÍBLIA E OS SEUS SEGREDOS, pág. 69

[ii] Livro Negro do Cristianismo

[iii] ARMSTRONG, Karen; A History of God, pág. 87

[iv] ARMSTRONG, Karen; A History of God, pág. 124

[v] Idem, idem

[vi] Idem, idem

[vii] Livro Negro do Cristianismo, pág. 141

[viii] Vanna De Angelis, op. Cit., pp. 382-383; citado por livro negro do cristianismo pág. 141

[ix]http://www.alternet.org/reproductivejustice/136012/the_vatican's_perverted_sense_of_justice:_pedophiles_stay_in_the_church,_while_priests_who_ordain_women_are_excommunicated/

[x] Idem, idem

[xi] Idem, idem

[xii] Idem, idem

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