domingo, 6 de dezembro de 2009

Minaretes, respostas religiosas e atentados terroristas

Numa acção de democracia directa, os Suiços, acharam por bem proibir os minaretes no seu território nacional. Tenho falado com algumas pessoas e ouço respostas do género:

“Nos países deles também são proibidas as construções de Igrejas. Porque não tratá-los da mesma forma?”

Notícias de Jornal publicitam exemplos de discriminação religiosa em países muçulmanos. No Expresso foi escrito:

“Na Arábia Saudita, a construção de Igrejas é proibida e os 900 mil católicos do reino, imigrantes da Índia e das Filipinas, são obrigados a celebrar missas à escondida. O vizinho Qatar só inaugurou a primeira igreja o ano passado. Em Marrocos é necessária uma autorização especial do Governo para a comunidade cristâ ter um local de culto, que tem que ficar longe de escolas e mesquitas.[i]

No entanto, e apesar da falta de valores de liberdade religiosa em terras muçulmanas, não consigo aceitar o argumento apresentado por essas pessoas. Essencialmente é uma resposta religiosa. Dizer que os muçulmanos não podem construir minaretes no meu país porque não deixam construir igrejas no país de origem deles é fundamentalmente uma resposta religiosa.

Pessoalmente não gosto de nenhuma religião. Mas considero profundamente errado proibir-se a prática de diferentes confissões religiosas (desde que os seus actos não violem as leis do país anfitrião) ou a construção de templos. A construção de minaretes deveria estar sujeita às regras urbanísticas da cidade e não às crenças religiosas das pessoas.

Manter este diálogo no nível religioso só fará com que as posições se tornem mais extremadas e o bom senso desapareça. Eu sou um defensor do estado laico, um estado onde a religião não tenha poder de decidir sobre a vida das pessoas, em particular daquelas que não partilham a mesma fé. E a única forma de conseguir isso é garantir que a religião não tem acesso a centros de poder, elevar os níveis de formação científica da população e garantir a todas as religiões liberdade de culto e condições para o exercício dessa liberdade.

Retirando a religião de centros de poder vai permitir que grupos não religiosos possam discutir livremente os seus ideais e defendo religiões minoritárias. Vai, ao longo do tempo, facilitar a formação de pessoas com espírito mais aberto e crítico relativamente aos valores religiosos.

Aumentar o nível de formação científica de uma população permite diminuir o número de fiéis (países com maiores índices de formação cientifica são sociedades onde a religião desempenha um papel menor) ou aumentar a independência moral e intelectual dos crentes em relação aos seus mentores religiosos (veja-se a resposta da Espanha católica ao problema do uso dos preservativos!).

Garantir liberdade de culto vai permitir que várias religiões possam competir por um pequeno número de fiéis, dispersando o seu poder mobilizador contra movimentos laicos e democráticos (os grupos de extrema direita são aqueles mais ligados à religião e mais predispostos a seguirem politicas que promovam a discriminação religiosa[ii]), ou mesmo contra outras religiões (o aumento de poder de uma religião pode levá-la a discriminar outras minorias. Uma boa parte da história da Igreja Católica e muitos países muçulmanos são disso um exemplo).

Proibir a construção de minaretes vai contra a essência da sociedade laica e mostra o perigo que ainda existe na Europa desse conceito tão recente. Os preconceitos religiosos das pessoas não desaparecem facilmente, nem aceitam facilmente um regime onde essas crenças são essencialmente subjectivas e separadas dos valores sociais (veja-se a recente propaganda da Igreja Católica contra o casamento gay). A proibição dos minaretes além de um ataque contra a fé muçulmana foi um grave atentado terrorista contra a sociedade laica.

NOTAS FIM DE TEXTO


[i] Expresso, 5 de Dezembro de 2009, pág. 20

[ii] Este exemplo pode ser discutido uma vez que os grupos de extrema esquerda também combatem a democracia e defendem a liberdade religiosa. No entanto historicamente, o Comunismo tem sido marcado por ditaduras que perseguem todo o tipo de religiões procurando tomar o seu lugar. Não existe até ao momento, exemplos claros de países comunistas onde a liberdade religiosa tenha sido defendida. A extrema esquerda e a extrema direita separam-se também nesse ideal. Historicamente a extrema esquerda precisa tomar o lugar detido pela religião enquanto que a extrema direita é um movimento que permite salvaguardar as elites, na qual se inclui a religião dominante local. Isso é bem evidente nos slogans da extrema direita (País, Deus e Família) e na história onde se mostra uma relação íntima entre governos de extrema direita e a Igreja Católica (da Alemanha à Argentina).

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