sábado, 1 de março de 2008

Afirmações Papáveis

Até considero que o ano teria acabado em bem para o Papa. Apesar de rodear o seu discurso de natal à volta do menino Jesus (não se pode pedir muito) falou de problemas actuais importantes como o aquecimento global.

No entanto, o ano de 2008, que ainda é novo já se encontra recheado de baboseiras do pior que se poderia encontrar.

Em primeiro lugar começou por fazer um discurso ridículo a defender os valores de família tradicional considerando a erosão desta como um perigo para a paz internacional. Mais uma vez surge aquele discurso completamente desprovido de qualquer noção da realidade dos nossos líderes religiosos. Sobre o que vai mal no mundo já escrevi bastante quando critiquei o ponto de vista do cardeal de Lisboa. O que eu queria saber agora é como a erosão da família tradicional é um risco para a paz mundial?

Seremos mais pacíficos se retirarmos os direitos cívicos das mulheres que lhes permite o divórcio? Será preferível mantermos famílias unidas apesar de completamente instáveis com pais que espancam ou violam os filhos? Teremos assegurada a paz caso as mulheres sejam obrigadas a ficarem casadas com um bêbado que a agride e lhe retira toda a dignidade?

Não concordo com aquelas pessoas que mal se apaixonam decidem casar porque está na moda. Acho que estão a arranjar problemas futuros perfeitamente evitáveis. Mas não posso nunca associar-me a este tipo de discurso completamente retrógrada que fala dos valores da família tradicional. Até porque eles não existiam.

O Papa continua o seu discurso afirmando que “a paz não é uma simples conquista do homem ou o fruto de acordos políticos… é, antes de tudo, um dom divino ”. Apesar de este discurso já nada ter a ver com o valor da família tradicional refere um problema que muito aflige a Igreja. É que a paz é uma conquista do homem e é atinginda com acordos políticos. Esta história do dom divino não é mais que uma maneira de chamar a atenção para a possível utilidade de uma cambada de inúteis como são os altos cargos do Vaticano. De dons divinos que não passam de um discurso bonito sem qualquer conteúdo está o mundo farto.

Na realidade o Papa não queria dizer nada de útil relativamente à paz mundial O que ele queria era chamar a atenção para a família tradicional. Aquela família constituída por um homem e uma mulher. É que o Vaticano ainda não se mentalizou que os homossexuais são pessoas normais como o resto da população onde se encontram como os heterossexuais, metrossexuais, bissexuais, ecossexuais e assexuais como são os padres da Igreja Católica. E já que defende o valor da família tradicional devia deixar-se de ataques homofóbicos e começar a pensar em acabar com o celibato. Essa sim é uma prática arcaica e anti-natura.

Se pensam que os disparates ficam por aqui aguardem. É que de acordo com as últimas noticias este senhor decidiu dizer que quando a ciência e a religião chocam esta deve retirar-se. Segundo todos os noticiários por “esta”, ele referia-se à ciência. O que é absolutamente espantoso. É uma forma de dizer: vamos acabar com a ciência. Desta forma a Igreja pode voltar a ter o poder dominador e estupidificante que deteve sobre a população e cometer todo o tipo de crimes e discriminações sem qualquer crítica à sua acção.

Quando a Igreja afirmar que houve um milagre que viola todas as leis da ciência conhecidas então a ciência deve retirar-se pois está em choque com a religião. E assim temos um conjunto de ignorantes crédulos homofóbicos que definem aquilo em que devemos acreditar assim como toda a nossa forma de questionar o mundo. Assim quando nos apresentam este Papa, que pelos disparates que diz, sem dúvida será santificado, nós podemos ver, não um homem escolhido por Deus para nos governar mas sim um simples fundamentalista senil que não compreende e não se adapta ao mundo em que vive.

Este Papa adapta-se bem à personagem de Símplicio da obra “Diálogo dos Grandes Sistemas” de Galileu Galilei. Sabem, aquele Símplicio, que só dizia disparates e defendia a Igreja. E escrevo isto publicamente, sem medo de ser queimado na fogueira ou de ser julgado pela Demoníaca Inquisição. É que a ciência é laica e num estado laico a ciência tem mais poder que a religião. E deve confrontá-la. E deve mostrar a falsidade com que se sustentam as afirmações religiosas.

Sem comentários:

Enviar um comentário