sábado, 1 de março de 2008

A verdadeira mãe e a sabedoria de Salomão

Recentemente fui ver o filme “vista pela última vez”. O filme tratava do rapto de uma criança e o enredo era feito à volta da sua procura. A sua mãe era um toxicodependente que não dava a atenção devida à filha. No final do filme, ficamos a saber que a criança fora raptada pelo chefe de polícia. O dilema, que se colocava, à personagem principal do filme era denunciar a situação e tirar a criança de uma família, que não era a dela, mas que lhe iria dar todo o amor necessário e um futuro risonho ou devolve-la à mãe biológica. O personagem decidiu denunciar a situação e entregar a criança à mãe biológica.

Na minha óptica a criança ficaria com a família que a raptou. Não é o mais correcto mas quando penso no futuro promissor da menina, inserida naquela família, não tenho dúvidas que seria o melhor para ela. Antes isso a garantir um contacto precoce com as drogas e a viver num bairro degradado e com uma família que não lhe dá a atenção devida.



Este filme fez-me lembrar a sabedoria e Salomão. Quando recebeu 2 prostitutas que disputavam a mesma criança como sendo o filho biológico pediu uma espada para cortar a criança ao meio. A mãe, definida como mãe biológica na Bíblia, gritou que dessem a criança à outra mulher mas que não lhe fizessem mal. Salomão decidiu dá-lo à mulher que, com essa atitude, demonstrou um verdadeiro amor pela criança. Na realidade não é relevante se era a mãe biológica. Interessa que era aquela que maior amor demonstrou pelo bebé.

Conto estas 2 histórias porque elas têm uma actualidade nacional muito importante. Quem tem direito a uma criança? A mãe biológica que a abandonou ou a mãe adoptiva que lhe dá amor? O caso da Esmeralda Porto tem apaixonado o país. Esmeralda fora dada para adopção, pela mãe, quando o pai, Nuno Baltazar, ainda nem tinha assumido a paternidade da mesma. Mas agora mudou de ideias e pretende retirá-la de uma família que lhe dá amor e conforto. Até os pedopsiquiatras já se manifestaram a favor da continuidade de Esmeralda na família de adopção. Eu também não tenho dúvidas. As crianças devem ficar onde recebem atenção e amor.

Mas surge agora o problema da Arca de Zoe e das crianças raptadas no Chade (vamos supor que essas crianças iam mesmo para adopção e não para redes internacionais de pedofilia). Será correcto raptar centenas de crianças das suas famílias? Poderemos legalizar esta prática em benefício dessas crianças? Estas perguntas parecem-me obscenas. Mas sou obrigado a faze-las a partir do momento em que defendo o caso da Esmeralda.<

Creio, no entanto, que o problema é diferente. Apesar de nascerem num país pobre não há sinais de que não seriam amadas pelos pais. Infelizmente também não há dúvidas que muitas, se não todas, iriam ter um futuro infeliz num país onde a pobreza, a violência e a violação dos direitos humano são comuns. Então como posso definir o bem e o mal nesta questão? É obsceno raptar centenas de crianças para as colocar em boas famílias de adopção mas é correcto se for só uma? Infelizmente falta-me a sabedoria de Salomão para responder a esta questão.

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