domingo, 2 de março de 2008

O Drama da Humanidade e o Cardeal de Lisboa - parte I

Foi com alguma surpresa que li a notícia do jornal Notícias da Manhã sobre o cardeal de Lisboa, D. José Policarpo. Ainda não percebi bem onde ele tem Dom mas sempre é um título que fica bonito.

De acordo com José Policarpo a negação de Deus ou o afastamento Dele (ou entenda-se, o afastamento das fantasias da Igreja Católica) é “o maior drama da humanidade”[1]. Mais à frente é citado a dizer: “Todas as expressões de ateísmo, todas as formas existenciais de negação ou esquecimento de Deus, continuam a ser o maior drama da humanidade…[2]”.



Eu poderia pensar que os grandes dramas com que a humanidade se enfrenta hoje em dia tem a ver com problemas ambientais como o aquecimento global, ou problemas económicos como a fome que grassa em África, ou problemas de direitos humanos como as redes pedófilas que inundam os países de terceiro mundo (assim como alguns padres durante muito tempo protegidos pela Igreja Católica) e a defesa dos direitos das mulheres, ou o combate ao terrorismo e fundamentalismo religioso, ou mesmo o combate à ignorância científica que grassa em todas as sociedades do planeta. Mas não. De acordo com este senhor, sem dúvida iluminado pelo seu amigo imaginário, o grande drama da humanidade é o ateísmo.

Viveríamos todos muito mais felizes e sem problemas se nos dedicássemos devotamente às invenções epilépticas de São Paulo e companhia. Senão vejamos: nos EUA as cidades e os estados onde a discriminação é mais acentuada e o crime mais comum e violento são republicanos. E como todos sabemos republicanos é idêntico a religioso. E nesses mesmos estados existem milhares de pessoas que querem tirar os filhos da escola porque preferem ensiná-los em casa. Desta forma garantem que eles aprendem os mitos criacionistas cristãos e não as heresias pagâs científicas como é a evolução. A religião continua a fazer maravilhas no combate ao terrorismo ao arranjar todos os dias novos pretendentes a mártires e a justificar superficialmente as intervenções desastrosas do actual presidente dos EUA (que de certeza deve ser ateu). E continua a oprimir os direitos das mulheres e os direitos humanos que os ateus tanto se esforçaram por combater.

Eu compreendo que a pobreza e a ignorância científica que nos levam a acreditar em coisas completamente ridículas, muitas delas já mencionadas neste site em textos mais antigos, sejam úteis à religião. Senão repare-se: quanto mais pobre é o país mais religiosas são as pessoas e mais influência recebem da Igreja. Assim temos um bispo do México a defender que as mulheres casadas que morram de SIDA por se recusarem a usar preservativo sejam martirizadas. E temos o Bispo de Kigali que devia estar a ser julgado por crimes contra a Humanidade por ter participado activamente no massacre de Tutsis no Ruanda. Como é Bispo é intocável. Mas não. O Cardeal de Lisboa acha que o drama da humanidade é o ateísmo. É que se fossemos todos crentes poderíamos muito bem fechar os olhos a todas as atrocidades cometidas pela religião ou em nome de um Deus que ninguém, com um mínimo de humanismo e formação, gosta.


[1] Destaque, Notícias da manhã, pág. 3, quarta-feira, 26 de Dezembro de 2007.
[2] Idem, idem.

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