sábado, 19 de setembro de 2009

A ciência não explica tudo

Recentemente tive o prazer de me encontrar envolvido numa discussão sobre aquela prática muito engraçada de colocar um fio de metal com um anel em cima da pessoa e deixá-lo rodar para ver se teve filhos do sexo masculino ou feminino.

Compreendo que as pessoas façam isso pelo gozo. Também me dá gozo fazer isso ou ler os signos da maya. Mas levar a sério uma patacuada dessas já não compreendo. Uma vez que é a mulher que engravida como podemos fazer isso nos homens? Como é possível fazer isso em pessoas que ainda não tiveram filhos quando nem sabemos se elas vão morrer amanhã? Eu imagino alguém a dizer a um crédulo: “vai ter 2 meninas e um menino”. E no dia seguinte passa-lhe um camião por cima. Essa prática nem é capaz de predizer quem é infértil ou não. Basta um pouco de bom senso para destronar por completo qualquer pseudo-lógica que pretenda fundamentar essa crença. Mas quando surge um céptico com explicações e desafios suficientes para enterrar bem fundo toda a credulidade aparece sempre o argumento: “a ciência não explica tudo”.



É uma boa lapalissada. É claro que a ciência não explica tudo. Mas a questão não é essa. Neste momento a questão é:”será que essa treta explica alguma coisa? E consegue realmente fazer previsões comprováveis?”. Não se pode validar a Astrologia, Cartomancia, Mesmerismo e outras tretas afins com o argumento da incapacidade totalitária explicativa da ciência.

Este argumento não falha unicamente por ser dissimulado. Falha também por não saber fazer a distinção entre provar e explicar. A ciência não precisa explicar um fenómeno para o provar. Na realidade, muitas vezes, a explicação é uma necessidade pois o fenómeno já está provado. Portanto, a questão é se o método científico é capaz de estudar esse fenómeno. Podemos nós usar análises estatísticas para comprovar a veracidade dessas afirmações? Algumas pessoas podem dizer que não. Podem argumentar que os métodos reducionistas da ciência não tem capacidade de analisar ou verificar a existência das energias por trás destes eventos. É o mesmo argumento da treta que a religião tanto gosta.

Este último argumento é uma variação do primeiro e procura fugir à questão essencial. Não se coloca a questão de saber se a ciência consegue analisar essas energias muito fugidias, mas sim se as pessoas que as “sentem” conseguem acertar o número de vezes suficientes no jackpot. Outra coisa interessante neste argumento é que a ciência é uma incapaz, mas qualquer ingrúmeno, sem o mínimo de formação académica ou cultura científica, pode ter poderes excepcionais.

Podemos colocar várias hipóteses de estudo: definir um grupo controlo e pedir a uma pessoa para se passear com o fio e definir o número de filhos e o sexo. E depois podemos verificar se os resultados obtidos correspondem à realidade. Podemos definir uma amostra de mulheres inférteis que nunca tiveram filhos, ou uma amostra de mulheres com imensos filhos, e pedir uma análise para verificar se essa prática realmente consegue prever alguma coisa. São os resultados destas, ou outras, análises que nos permitem dizer se funciona ou não.

Quando usamos o argumento da “ciência não explica tudo” e queremos significar que a ciência não é capaz de explicar a Astrologia ou Mesmerismo ou outra aldrabice do género, então dizemos uma grande verdade. Mas a ciência só não explica porque não há nada para explicar. A única questão cientifica relevante nestas matérias não tem a ver directamente com elas mas sim com o que lhes dá origem. O nosso cérebro. Esta máquina fabulosa de neurónios está construída para nos fazer acreditar. Porquê? As diversas teorias sobre este assunto são complexas e abrangem várias áreas do conhecimento humano como a neurobiologia, a biologia evolutiva e a psicologia. Mas se queremos magia é aí que a iremos encontrar. A ciência é a magia dos cépticos e informados.

1 comentário:

  1. eu acredito nos astros, quer dizer nunca fui a nenhum mas acredito q existem e q ñ são meros luzeiros no firmamento (q tb acredito q existe); eu acredito na influência dos astros, quer dizer nunca senti nenhuma em particular, (tirando a minha atracção pela lua, e quem não); eu acredito na influência das cartas na sueca e aqui já posso dizer q um ás vale sempre 11 pontos; eu acredito na ciência e q está cientificamente provado que o becel faz bem ao coração e q a água ñ contem colesterol; eu só não acredito mesmo é no mesmerismo pq ñ sei o q é; talvez uma falha na minha máquina de neurónios...

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