terça-feira, 29 de setembro de 2009

Os 3 segredos de Fátima e a essência da religião: propaganda e mentira – parte II

Por outro lado fala-se também da fome. Obviamente que quando se fala de guerras vem sempre a fome incluída. Mas olhando para a história do século XX podemos observar que a fome diminui-o ao longo de todo o século. O problema é que estas profecias (?) não especificam tempos ou locais o que significa que se podem adaptar a qualquer situação. O que faz com que não sejam profecias, mas sim previsões amadoras. Se há guerra muito provavelmente vai existir fome.

As perseguições ao Santo Padre – tema que alimenta a paranóia Mariana – também são interessantes. O que faz delas bastante interessantes é que não houve nenhuma perseguição ao Papa. Obviamente que existiram tentativas de assassinato ao Papa João Paulo II mas isso aconteceu muitos anos após a 2ª Guerra e não se podem considerar, verdadeiramente, como perseguições.

A Virgem Maria ainda nos dá a solução para evitar todos estes problemas. Ela diz: “virei pedir a consagração da Rússia a Meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos primeiros sábados”. O cumprimento destes pedidos implicará que “a Rússia se converterá e terão paz”. Estas passagens levam a crer que é a Rússia a causadora das guerras. A ausência de qualquer outro país e o contexto geral da carta leva-nos a crer, apesar de não afirmado directamente, que a Rússia é a causadora da 2ª Guerra Mundial. Esta ilação fica mais forte quando ainda é escrito: “se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja”.

Em primeiro lugar nem se deveria falar de Rússia mas sim de União Soviética. Além de História, relações internacionais também não são o forte da Virgem Maria. É verdade que a UNIÃO SOVIÉTICA promoveu guerras e perseguições religiosas. No entanto esta não é a história toda.

Imensos países patrocinaram guerras e regimes ditatoriais e promoveram a perseguição religiosa quando lhes foi proveitosa. A própria Igreja fez pactos com imensos regimes e ajudou a perseguir outros grupos religiosos (e não só!). Por outro lado Lúcia é uma Católica (não nos vamos esquecer desse pormenor) e na UNIÃO SOVIÉTICA o Cristianismo vigente era o Ortodoxo. Na Rússia actual ainda é o Ortodoxo.

Falava a Virgem para os ortodoxos através de uma católica iletrada? Que ilações deverá tirar o Vaticano desta afirmação da Virgem? O Vaticano (católico) tem de fazer uma missa para salvar a Rússia do Comunismo e salvar os ortodoxos? Para responder a estas questões é necessário tomar atenção a outra particularidade do texto. É dito que a Rússia se converterá mas nunca é afirmado quando ela se desconverteu. Ou seja, a famosa profecia sobre a Revolução Russa nunca foi realmente escrita.

Sabendo que o texto foi escrito por uma católica sobre um país ortodoxo o que se entende por “converterá”? Significa que o comunismo, nunca falado no texto, vai deixar de existir ou que a Rússia se vai tornar católica? O facto deste texto ter sido escrito por uma pessoa sem nenhum tipo de formação, com óbvias influências de ensinamentos católicos conservadores e o uso constante de um nome do século XIX (Rússia) deveria deixar-nos apreensivos relativamente à veracidade destes “milagres”.

No final do texto é dito que o Imaculado coração da Virgem triunfará e que o mundo conhecerá um breve período de paz. Todos os crentes nesta fantochada acreditam que a Virgem ditava algo sobre o fim do regime comunista da UNIÃO SOVIÉTICA. Mais uma vez, o Advogado do Diabo encontrou alguns problemas.

Para as guerras terminarem, a Virgem vem “pedir a consagração da Rússia a Meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos primeiros sábados”. Eu gosto particularmente da Comunhão reparadora nos primeiros sábados quando as missas são dadas aos domingos. A consagração da Rússia também é engraçada. Consoante a fonte, ela ora foi feita ora não. Já ninguém sabe realmente. Como tal, fica difícil saber a razão que levou a Rússia (UNIÃO SOVIÉTICA) a converter-se e a transformar-se na Rússia ortodoxa.

O terceiro segredo, então, é de morrer a rir. As imagens de guerra, onde flechas e balas inundam o cenário, faz-nos pensar naquela pessoa com a mentalidade no século XIX que falámos há pouco, onde a UNIÃO SOVIÉTICA COMUNISTA é trocada pela Rússia ortodoxa e onde as armas mais modernas, totalmente desconhecidas de Lúcia, são descritas em termos novecentistas como espingardas e flechas.

Apesar do papa João Paulo II querer acreditar que o 3º segredo fala do atentado que sofreu em 1981, a verdade é que nem a irmã Lúcia considerou esse atentado como parte da profecia. Na realidade a irmã Lúcia escreveu uma carta 1 ano depois, 1982, onde afirma categoricamente que ainda não se vislumbrou o que está descrito no 3º segredo. Mais especificamente escreveu: “não vemos ainda, como facto consumado, o final desta profecia.”[i] Obviamente que, após João Paulo II vir, no fim do século, com as suas ideias a irmã Lúcia decidiu aceitar a sua visão e dizer que a leitura do ano jubilar era a correcta. O Cardeal Ratzinger foi encarregado de fazer algo semelhante tentando usar argumentos mais intelectuais: chama-se teologia.

Evidentemente que caso desejemos continuar com esta absurdidade podemos sempre levantar mais umas questões incómodas: que profecia é aquela que afirma que o Papa é assassinado quando na realidade ele fica vivo? Qual a razão que leva Maria a dizer que o Papa vai morrer para depois o salvar da morte passando por incompetente no que concerne à sua capacidade profética? Qualquer pessoa minimamente inteligente capaz de colocar estas questões facilmente percebe que tanto os milagres e as profecias como a leitura que a Igreja faz das mesmas são uma fraude pegada.

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS


[i] Idem, idem. P.60

2 comentários:

  1. 2009-10-04 18:15:35
    É importante que mitos como esse sejam esclarecidos,visto que as pessoas hoje em dia,tanto quanto antigamente ainda acreditam em qualquer baboseira.

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  2. 2009-10-05 17:41:37
    Sabes que enquanto as pessoas quiserem acreditar não há provas ou argumentos que as possa convencer do contrário. Chama-se a isso fundamentalismo mas as pessoas tendem a chamar-lhe fé.

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