Abertura de espírito e ausência de razão

Não raramente os cépticos são acusados de não terem abertura de espírito. Se um céptico não acredita que existe uma qualquer energia, dos planetas, que influencia o comportamento do ser humano é porque não tem abertura de espírito.

Se o céptico não acredita numa qualquer energia que circula no corpo e que não pode ser medida, com a a tecnologia actual, mas pode ser aprendida a sentir-se em qualquer workshop de fim de semana então é porque não tem abertura de espírito. As mesmas acusações são feitas quando se atacam coisas como a leitura das cartas, milagres religiosos, água com memória ou qualquer outro disparate.

Pedir provas de que funciona e pedir provas que sustentem a explicação dos fenómenos são, para muitas pessoas, uma demonstração de falta de abertura de espírito. Para muitos crentes (seja na religião ou em tretas new age) não aceitar sem questionamento é uma falta de abertura de espírito.

O problema de muitas pessoas é confundirem abertura de espírito com ausência de razão. Coisas como astrologia, homeopatia, canais energéticos no corpo, auras e tudo o mais são patetices pegadas. Afirmar isto não significa que eu não as possa considerar verdadeiras como uma hipótese de estudo.

Significa, unicamente, que mesmo “abrindo o meu espírito” para estas hipóteses não vou deixar de as questionar. Vamos supor que a água tem memória. Várias questões são possíveis: existem provas que a água tenha memória? Quais os mecanismos que explicam a memória da água? Se a água tem memória porque é que existem comprimidos homeopáticos sem qualquer conteúdo de água? Abrir o espírito à possibilidade da água ter memória não significa deixar de pensar.

Se repararem qualquer céptico quando aborda estas questões tem de o fazer numa perspectiva “Será que funciona?”. Isto é abertura de espírito. Os não cépticos abordam a questão pelo prisma “funciona. Que bonito!”. Isto não é abertura de espírito e pura ausência de razão.

Se existe uma área que seja obrigada a ter abertura de espírito, essa área é a ciência. Dificilmente sem abertura de espírito se conseguiria ter chegado à teoria heliocêntrica, à evolução, à teoria da gravitação, à teoria do Big Bang, a uma teoria da luz onda-corpúsculo, ao electromagnetismo e à força electrofraca, ao universo inflacionário de Alan Guth ou ao mecanismo de circulação de sangue no corpo humano, etc…

Mas estas teorias e muitos dos factos do mundo de hoje não existem somente porque as pessoas tiveram abertura de espírito. Existem também porque essa abertura de espírito não implica a ausência da razão. Essas teorias e factos existem porque os cientistas pensaram sobre elas, provaram que existem e explicaram como funcionam.

A única coisa que os proponentes dos movimentos new age com as suas energias ou religiosos com as suas crenças em entidades divinas nos pedem para fazer é para eliminarmos essa razão, essa capacidade de pensar. Aceitar as suas afirmações sem o mínimo de cepticismo, sem questionar as suas premissas ou os seus dogmas. Mas isto não é abertura de espírito. É ausência de razão. É fundamentalismo.