segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Revolução Na Ciência 1500-1750

Esta é daquelas obras que se podem classificar como OBRIGATÓRIAS. Entre imensos livros bons existem alguns que atingem a imortalidade pela sua qualidade. São poucos os livros que o conseguem. Lembro-me de alguns como Armas, Germes e Aço (sobre o qual irei escrever), Diplomacia, A ideia Perigosa de Darwin, entre outros. Este é daqueles livros que numa escala de 0 a 5 receberia 7. É OBRIGATÓRIO, OBRIGATÓRIO, OBRIGATÓRIO.

Como o título do livro indica. O assunto abordado é a história da ciência ao longo de 250 anos ricos em descobertas e discussões acaloradas. Foi um dos períodos mais marcantes da história da ciência. Conhecer os seus personagens e os seus feitos, os campos de ideias sobre os quais se debatiam e pelos quais se debatiam, a criação de um espírito crítico e a interpenetração destes e outros factores é o doce sumo que este livro nos oferece.

Escrito por Rupert Hall e publicada na colecção “O Saberda Filosofia” das edições 70, possui 14 capítulos distribuídos ao longo de perto de 500 páginas. Veja quais os capítulos e pequenos excertos do livro.

1 – O problema da causa
«Filósofos como Bacon e Descartes desencadearam ataques metodológicos muito extensos ao passado, mas investigadores efectivos dos fenómenos tendiam a ser fragmentários na sua abordagem (isto é verdadeiro, por exemplo, em relação ao estudo da luz pelo próprio Descartes).»
Pág. 40
«Mais uma vez o interesse principal para o historiador da revolução científica está aqui na criação de uma nova população que era simultaneamente «letrada» e prática, se bem que não fosse formalmente académica, uma população capaz de canalizar o conhecimento dos fenómenos naturais para níveis intelectuais efectivos, por exemplo.»
Pág. 43
«A «causa» talvez mais óbvia para a revolução científica que pode ser sugerida é que ela representa a floração selectiva de certas tradições medievais. Ninguêm duvida que a revolução científica constituiu um afastamento da corrente principal de instrução medieval tal como era cultivada nas universidades, e na realidade uma reacção contra ela; mas alguns grandes eruditos têm acreditado que existiam outras tendências na corrente principal que faziam avançar as ideias na direcção que a ciência moderna haveria de tomar.»
Pág. 53

2 – O reflorescimento científico do séculos XVI
«Vesalius era um professor ambicioso e popular que lançara a Universidade de Pádua na sua ascenção para a eminência como centro para o ensino da medicina, enquanto Copérnico era um administrador eclesiástico menor que atraiu apenas um discípulo real, George Joachim Rheticus (1514-76). Vesalius foi o fundador de um método de descoberta – essencialmente, durante quase duzentos anos, toda a discussão do funcionamento de organismos vivos seria baseada na anatomia – ao passo que Copérnico explorou um grande princípio novo, o princípio de que nos sistemas dos céus existe uma perfeita reciprocidade entre sistemas centrados no Sol e sistemas centrados na Terra.»
Pág. 67
«O que Leonardo prova de facto, dada a possibilidade de dissecação humana, é a fertilidade e na verdade a necessidade de estudar o livro e o corpo ao mesmo tempo.»
Pág. 77

3 – Um século de confusão
«Um conceito pós-clássico que teve grande importância na mecânica do século dezasseis é o de impulso. Aristóteles, na sua Física, categorizava os movimentos sublunares sob dois títulos: se ocorriam como parte da ordem natural das coisas eram naturais, se contrários a essa ordem (como quando um peso é içado) violentos. A ambas as espécies de movimento ele julgava oferecida a resistência do meio (normalmente o ar ou água) através do qual o corpo móvel tem de passar, tal como quando uma folha flutua ao cair de uma árvore.»
Pág. 112

4 – A nova ciência do movimento
«A maior parte dos eruditos via um processo de mudança gradual no conteúdo dos livros e prelecções continuadas, à medida que o trigo era separado do joio na ceifa da inovação. Só quando as propostas meticulosamente formuladas de Copérnico (castradas pelos peritos de Wittenberg) foram largamente desdobradas pela borbulhante imagi9nação filosófica de Bruno, divulgando uma visão de mundos infindáveis, almas infindáveis, Redentores infindáveis, e quando Galileu (uns vinte anos depois de Bruno) passou a pintar toda uma nova visão observada do cosmos em que a Terra de Copérnico se movia é que a inovação assumiu uma carácter compacto e ameaçador.»
Pág. 139

5 – A revolução na astronomia
«Toda a tendência da revolução científica era no sentido de se rebelar contra esta visão do astrónomo como matemático, como idealizador de modelos para salvaguardar os fenómenos, e para ver a astronomia como uma ciência que compreendia a totalidade do conhecimento referente aos céus e às relações da Terra com as regiões celestes.»
Pág. 199

6 – Inovação na biologia
«O grande mérito de Harvey foi o de reoredenar factos e observações conhecidos mas mal compreendidos numa generalização nova e extensiva… Harvey assemelha-se a Galileu ao insistir numa nova visão do que toda a gente pensava compreender e também ao introduzir um aspecto mecânico quantitativo nesta visão, ainda que esta não tenha constituído, de forma alguma, a essência do seu método.»
Pág. 217
«Fernel defendera que, se a dilatação das artérias era produzida pelo fluxo de sangue vindo do coração, a pulsação não seria simultânea a todo o comprimento das artérias, como se verifica ser – um argumento arguto, mas mais uma vez hidraulicamente errado (no que respeita aos intervalos de tempo que ele podia medir). Fernel acrescentou que a contracção activa das artérias ajudava a empurrar o espírito vital (através dessas espessas paredes!) para a carne circundante.»
Pág. 221

7 – Novos sistemas de pensamento científico no século XVI
«O historiador é levado a sentir que, na parte final do século dezasseis, um consenso essencialmente aristotélico se dissolveu para ser substituído não por uma mas por uma multiplicidade de escolas: atomistas, cartesianos, hermetistas e paracélsicos, helmontianos, matemáticos platónicos e pitagóricos, eclécticos e individualistas de muitos tipos.»
Pág. 247

8 – A organização e propósito da ciência
«Na primeira metade do século dezassete, a função de uma reunião científica fora promover a discussão e disseminação da nova ideia de ciência, e fornecer um fórum no qual, não apenas perante uma audiência de entusiastas mas perante a secção mais vasta da sociedade educada e letrada, o pensamento original de um Galileu ou um Descartes pudesse desafiar as opiniões convencionais da ciência.»
Pág. 316

9 – Algumas influências técnicas
«Em três ciências relacionadas entre si, a química, a mineralogia e a metalurgia, a predominância da arte sobre a ciência era muito marcada no início do século dezasseis. Na filosofia natural havia um conhecimento rudimentar da classificação das gemas, terras e minérios juntamente com uma teoria totalmente improfícua da produção a tranformação das substâncias.»
Pág. 332

10 – O progresso da experimentação
«Os filósofos têm com frequência sublinhado a distinção entre descoberta e demonstração na ciência; a reflexão e a investigação precipitadas de um problema podem fazer surgir a explanação sem sugerir uma demonstração convincente de que ela seja correcta, o que pode ter de ser obtido de alguma outra maneira.»
Pág. 353

11 – Natureza e número
«… Huygens não conseguiu encontrar o caminho da mecânica teórica para a física experimental. Newton viria a encontrar êxito nisto. É verdade que a spenetrações bem sucedidas de Newton no nível microscópico de modo a mostrar a congruidade com o macroscópico são poucas, mas são decisivas, e o seu conceito fundamental – que as partículas elementares da matéria exercem forças umas sobre as outras – manteve-se, desde o seu tempo até aos nossos dias, como princípio de partida da explanação científica, ainda que as forças não sejam já newtonianas.»
Pág. 407.

12 – Newton
«Leibniz supôs acertadamente que Newton estava adiantado em relação a ele em métodos de extracção de raízes e séries infinitas, todos estes envolvidos no «método inverso» das tangentes ou integração. Apelou em vão para a cooperação espontânea de Newton no aperfeiçoamento destas novas técnicas prometedoras.»
Pág. 423

13 – A amplitude da vida
«Aristóteles fizera a distinção, na zoologia, entre criaturas vivíparas e ovúparas, entre os cefalópodes e outros moluscos; Dioscórides distribuíra as plantas entre quatro grupos aproximados de árvores, arbustos, silvas e ervas. Distinções menores, entre ovos com casca e ovos sem casca, entre caduco e perene, florescente e não florescente, eram igualmente muito antigas. No essencial estas distinções foram preservadas, como a base da ordenação, até ao final do século dezasseis.»
Pág. 458-459

14 – O legado de Newton
«A filosofia mecânica era newtoniana; a filosofia matemática teve a sua origem em Newton; a filosofia experimtental era também newtoniana. Não se trata de as afirmações de Galileu, Kepler, Boyle e Huygens se encontrarem esquecidas ou a complexidade do desenvolvimento pré-newtoniano da ciência totalmente ignorado, mas sim de estes homens serem vistos como precursores do verdadeiro fundador da ciência moderna tendo, cada um deles, tido vislumbres parciais da ciência. Acima de tudo, Newton definira um método de ciência definitvo e infalível, quando os outros se tinham limitado a tactear esperançosamente em busca de verdades particulares.»
Pág. 484

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