terça-feira, 1 de junho de 2010

Crença e felicidade

Existem duas criticas que se costumam fazer aos ateus: uma tem a ver com a falta de moral. Os ateus são vistos como amorais e o próprio nome, ateu, teve origem como ofensa. Chamava-se ateu a uma pessoa que se queria ofender. Historicamente os ateus foram perseguidos e discriminados em muitas sociedades devido ao facto da religião os considerar como pessoas sem moral. Actualmente, muitos países dominados pela religião, ainda perseguem ateus, como é o caso do Irão (o ateu é tolerado desde que não diga que é ateu ou que não faça grande alarido sobre isso).

Outra critica diz respeito à felicidade. A felicidade não é possível no ateísmo porque a vida depois da morte não existe. Este artigo dedica-se a desmontar este mito que é tanto anedótico como triste. A um leitor do portal ateu respondi:
 

“Olhe que não. essa história de ser mais felizes porque acreditam na vida do além não é verdade. Muito longe disso.”[i]

Ao que ele respondeu:

“Compreendo o seu ponto de vista. Sei que há muita gente que deixa de ter vida própria por um “lugarzinho no céu”. A religião pode, em muitos casos, levar a uma vida mal aproveitada. Mas tenho muita curiosidade em saber, que tipo de razões para viver é que um ateu tem? A perspectiva de, subitamente, a sua consciência, pura e simplesmente, deixar de existir? A nossa existência resume-se à nossa consciência. Por muito que deixemos na Terra e que se lembrem de nós, se a consciência deixa de existir, tudo o que somos deixa também de existir, todo o pensamento e toda a memória. Se eu alguma vez acreditasse nesta “patacuada”, não me deixaria viver mais um dia para pensar melhor no assunto. Mas é claro, isso sou eu.”[ii]

Em primeiro lugar é patético considerar que a nossa felicidade está unicamente dependente da existência da vida depois da morte. Este factor é, na realidade, o que explica que a pobreza e a religião andem sempre de mãos dadas. Quanto mais pobre, mais infeliz é a pessoa. Precisa de compensar com algo. A vida depois da morte traz a esperança numa vida melhor (com menos preocupações) e o sentido de justiça que a pessoa não sente neste mundo. É também a razão pela qual movimentos religiosos como a IURD proliferam tanto em países pobres e conquistam, nos países ricos, as pessoas dos mais baixos estratos sócio-económicos.

É a infelicidade e o medo que leva as pessoas a ligarem-se a tantas religiões. Mas atenção: a infelicidade não desaparece com a religião. Ela é atenuada mas os motivos da infelicidade – fome, por exemplo – continuam. Isso explica a razão, pela qual, os países ricos, regra geral, são aqueles que apresentam taxas mais baixas de religiosidade. A pessoa tem uma participação cívica mais activa, possui níveis de felicidade superiores, tem mais poder de compra – daí as lutas da Igreja contra o consumismo.

Em segundo lugar pretende focar-se unicamente na razão de viver. Levantar este tipo de questões é ridículo. Mais não seja porque sendo esta a nossa vida devemos agarrá-la com todas as forças.

Existem fenómenos diferentes a nível dos crentes e dos ateus. Muitos crentes podem encontrar na religião forças para viver e enfrentar os problemas do dia a dia. Mas também existem crentes que usam a sua crença exactamente para fazer o oposto. Não se conhecem grupos de ateus que se tenham associado para cometerem suicídios em massa. E grupos de crentes religiosos?

O pensamento tipicamente crente de pensar “se não existe vida depois da morte para que viver” é pura e simplesmente infantil. A nossa felicidade ou a nossa vontade de viver não vão estar dependentes da nossa crença. A nossa vontade de viver é enorme, independentemente das crenças. Está inculcado nos nossos genes. Caso contrário a espécie já se encontraria extincta. Não conehço muitas espécies animais com religião mas todas elas tem instinctos de sobrevivência bastante aguçados.

Por outro lado a nossa felicidade está essencialmente dependente da forma como levamos a nossa vida e não pelas crenças que temos. Uma coisa que me espantou bastante há uns anos foi ter entrado em contacto com literatura de psicólogos clínicos que acompanhavam doentes terminais.

Ao contrário do que as pessoas pensam não eram as crenças religiosas que iriam definir se a morte de um apciente seria uma boa morte ou não. Marie de Hennezel, psicóloga clínica, afirmava que tinha visto padres a sofrerem mortes horrorosas e ateus e agnósticos a terem mortes boas. Dependia tudo da vida que os pacientes tinham levado e nunca das crenças com que tinham vivido.

A felicidade não está na crença. Está na forma como as pessoas perseguem os seus sonhos, como enfrentam os seus desafios diários. Está dependente das possibilidades de inserção social – algo que a crença impede muitas vezes -, na forma como pode ter uma vida activa na sociedade, na forma como pode satisfazer os seus desejos mais profundos e nas pequenas conquistas do dia a dia que acabam por levar a uma vida rica e plena de experiências. Para isso a crença não é minimamente necessária.

NOTAS FINAIS

10 comentários:

  1. Falou muito bem. Aliás você no "departamento jurídico" do vaticano (se é que existe isso lá) o seu cliente estaria mesmo em "maus lençóis" eheheheh.
    Sr. advogado já agora poderíamos remeter a "idéia de um nome "pós-moderno" para os "sem religião" para o PORTAL.
    Haja visto que "ATEU" é muito mal compreendido e por demais "estigmatizado" a ponto de até os religiosos "por tradição" os famosos (mariavaicomasoutras)nos confundam com seus irmãos irracionais.(primatas eh eh) O que o sr. acha?
    Por exemplo: "adeptos da liberdade""racionais" ("A.L.T.I.")Adeptos da Liberdade Total e Irrestrita) este não, mais parece nome de guerrilha eh eh e etc,etc,.
    A intenção ( o seu blog e o portal já fazem e muito bem), seria desmistificar e tirar da esquerda o ateísmo o agnósticismo etc.
    Como sabe, hóstias, águas bentas, missas, sinos e outros rituais já não nos são mais empurrados goela abaixo e (a menos que a todo momento tenhamos que estar a dar explicações para qualquer ignorante, POR QUE É QUE NÃO TEMOS RELIGIÃO)portanto nada mais justo partindo-se para a àrea que conhece bem, exigir-se "que a liberdade deles(religiosos) termine onde começa a nossa(não religiosos)ou (não nascidos pra crenças) e democráticamente vice-versa que acha?

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  2. Eu nunca entendi a lógica de os crentes dizerem que se não houver vida para além da morte, que preferem suicidar-se já. Será que a vida para eles é assim tão infernal que só vale apena o "sacrifício" com a promessa de outra vida depois da morte?

    E já agora, por falar em infernal, o quão chato será viver para toda a eternidade no Paraíso? Quer dizer, os primeiros 20 a 30 anos talvez ainda se passem bem, agora uma eternidade?! Acho que todo o conceito do Paraíso e da vida eterna é ridículo precisamente devido à parte do "eterno". Assim como é ridículo achar que nós temos alguma importância no meio dessa imensidão que é o Universo. Acho que a religião e a consciência das ordens de grandeza infinitas não combinam muito bem...

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  3. Boas Carissimos.
    Epá isto de me tratarem por você é que não está com nada. Acaba lá com isso spacy. Eu sei que sou importante. Afinal de contas não é qualquer um a ser convidado para servir o grande cornudo. Mas não sou snob. Prefiro mesmo que me tratem pelo nome: Advogado do Diabo (para todos os efeitos é este o meu nome! hehe).
    Ora bem falando sobre novos nomes ateus: eu devo dizer que até gosto de ateu. Sou mais agnóstico que ateu mas até que gosto mais do nome ateu que agnóstico. E só de saber que ele era usado como ofensa até mais se adequa a mim: revoltado e disfuncional por natureza.
    Até penso em chamar ateu ao meu filho quando o tiver... se o tiver. Eu e a divina Segóvia gostamos mais de treinar para... hehehe
    De qualquer forma tenho de admitir que arranjar um novo nome é um desafio interessante: apesar de achar que só nós é que o vamos usar. Prometo pensar nisso e quem sabe depois até levamos as nossas hipóteses para o portal ateu.
    abraço

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  4. Boas Skynet

    Os crentes comportam-se como aqueles tipos que vão a uma festa e em vez de curtirem a festa pensam numa festa futura que será muito melhor e que nunca foi publicitada... mas que existe de certeza.
    Os ateus comportam-se como aqueles gajos que vão a uma festa e curtem imenso sem pensarem em festas fantasmas que ninguêm sabe se existem ou quando vão acontecer.

    Quanto à importância do ser humano no Universo. Eu penso que todas as formas de vida, em particular as inteligentes são sempre importantes, por muito microbianas que sejam no Universo inteiro.
    Mas é verdade que à fé está sempre associado uma ideologia extremamente egocêntrica. Daí a aversão da religiãos a muitas descobertas cientificas.
    abraço

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  5. o distinto advogado poderia esclarecer assim aproximadamente sem grandes rigores científicos em termos percentuais quanto de si é agnóstico e quanto é ateu e já agora qual é a diferença, a destrinça, a discrepância entre os dois termos

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  6. Infelizmente não posso.
    Digamos que sou a ateu agnóstico. Acreditar em Deus - ou algo do género - e ser apologista da estupidez humana são coisas diferentes.
    Eu gosto de acreditar em Deus. Dá-me uma certa satisfação - mesmo que seja ilusória.
    No entanto não posso nunca colocar essa crença num plano racional, nem sustentá-la naquilo que não se pode sustentar. Sentir-me bem com uma coisa ou garanir que ela existe são 2 coisas diferentes.
    abraço

    PS: abraço pelas outras que me esqueceu. hehehehehe

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  7. pois tá claro que a fé não se pode colocar no plano racional; quer dizer, racionalmente, não pode; agora, «sentir-me bem com uma coisa ou garantir que ela existe são duas coisas diferentes"; são? serão mesmo? assim por exemplo? a pergunta não é retórica, não sublimina (!) nem sim nem não

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  8. Boas abel
    Se imaginares que um tapete consegue voar ele ganha realmente capacidade de voar?
    Nós imaginamos coisas que nos façam sentir bem. Mas isso é muito diferente de dizer que essas coisas são reais.
    Tens dúvidas faz o seguinte teste: acredita mesmo que consegues voar e depois manda-te de um muro! Vais ver logo que acreditar numa coisa ou essa mesma coisa ser verdadeira são 2 coisas muito diferentes.
    PS: não te mandes de um muro muito alto porque não quero que deixes de comentar o blogue. hehehe
    abraço

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  9. continuais a fazer a saudação nazi - vou imprimir a foto e vomitar em cima dela - pronto, já vomitei; qto aos tapetes, barato adolf, vê-se mesmo que nunca fosteis à turquia, marrocos ou afins; os tapetes voam mesmo, os € tb ou atão voais vós de lá pra fora; não m'atiro do muro pq vós assim mo pedis e pq acho q ñ teria fé em dose adequada para voar; o da vinci sentia-se bem com a ideia de um helicóptero e o verne com um submarino, mas eles sabiam que sonhar era uma coisa, a realidade era outra; mas sei q estamos de acordo, mein führer, mein o clho; parafraseando o meu escritor favorito, ora foda-se

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  10. Epá ó Abel já disse que ia tratar disso. Só ainda não publiquei o texto com as novas imagens.
    Esta imagem vai ser como os euros na turquia... vai voar. hehehehe
    abraço

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