quinta-feira, 10 de junho de 2010

Refutando William Craig - 1º argumento

1º ARGUMENTO

“a origem do universo aponta a existência de um criador transcendente”

William Craig inicia o seu discurso com o seu primeiro argumento. Numa fase inicial perde imenso tempo a mostrar que o universo não pode ser infinito. Mostrando que a ideia de um passado infinito parece absurdo. Leva a incoerências matemáticas e, citando vários cientistas de renome, mostra que a ciência afirma que o universo não é infinito.

O Universo teve um início. Depois Craig afirma que a ciência defende que o Universo surgiu a partir de nada e cita Anthony Kenny da Universidade de Oxford:

“a proponent of the big bang theory, at least if he is an atheist, must believe that the universe came from nothing and by nothing. But surely that doesn´t make sense.”

Este é o passe de mágica de Craig. Ele usa a ciência e sita imensos cientistas até ao momento em que o que estes afirmam já não lhe convêm. Depois, sem se saber como entra no mundo da filosofia.

Para Craig, o Universo não pode surgir do nada porque nada pode surgir do nada. Como tal deve existir uma causa para o Universo. Neste momento já todos se esqueceram dos cientistas citados, que Craig usou para ter credibilidade, mas que não sustentam estas posições.

Craig faz um resumo bem a jeito da filosofia amadora que eu tanto gosto:
-- o que começa por existir tem uma causa
-- o universo começou a existir
-- portanto o universo tem uma causa

Depois Craig faz outro passe de mágica e descreve como deve ser o causador do espaço e do tempo. Diz ele:
-- sem tempo
-- sem espaço
-- sem causa
-- imaterial
-- de extremo poder
-- deve ser pessoal

Voltemos ao primeiro toque de mágica. Se notarem, Craig deixa a ciência e usa a filosofia para provar que o Universo tem uma causa. Portanto, ao contrário de todo o seu discurso até ao momento, ele começa por fazer uma afirmação que não é sustentada cientificamente. É aqui que o discurso sério passa para a parvoíce completa.

Poderá o Universo ter uma causa? Certamente. Mas isso não é um facto científico. E muito menos verdadeiro somente porque se usa uma lógica simplista. Fosse assim tão simples e os Nóbeis da Física eram aos milhões.

Em segundo lugar, Craig consegue mesmo definir características da causa do Universo. Baseado em que factos científicos? Baseado em que provas? Nehuma. Zero. Nada. Népias.

Quem me diz que a causa do universo não pode ter uma causa por trás? O problema de Craig é que se aplicar o mesmo pensamento que aplicou ao universo vai-se encontrar no problema do infinito inicial. Caso não o faça tem de assumir que Deus não existe. Eu explico-me.

Usando a lógica simplista de Craig:
- nada não pode surgir do nada
- o que começa a existir tem de ter uma causa
- a causa do Universo se existe teve uma causa

Logo, usando a lógica simplista de Craig, a causa do Universo teve de começar a existir e a sua existência deve-se a outra causa que por seu lado teve de começar a existir ad infinitum. Ou seja, esbarrámos de frente com o problema inicial do infinito que para Craig é matematicamente incoerente e não válido.

Mas Craig descreve esta causa como uma causa “sem causa”. Baseado em quê? Nem os argumentos lógicos preferidos são usados para sustentar isto. Pura e simplesmente Craig não faz a mínima ideia se o Universo foi criado por alguém ou alguma coisa ou se surgiu do nada. Nem tem forma de mostrar que a “causa” do Universo não teve outra “causa” por trás.

Mas se se aceita que o Universo foi criado por uma causa “sem causa” e sem usar qualquer tipo de provas ou argumentos então qual a razão que me impede de aceitar o Universo como sendo sem “causa”? Pura e simplesmente, Craig está a definir o que tem causa ou não, consoante lhe dá jeito. Isto não é de uma pessoa que tem argumentos sérios. É de uma pessoa com uma grande falta de honestidade intelectual.

A questão da causa “sem causa” ser pessoal é ainda mais ridícula. Craig quer que assim seja porque acredita num Deus pessoal. Mas isto é fantasia pura. O discurso de Craig começa por citar cientistas e acaba numa versão pobre do Harry Potter onde existem causas “sem causas” – uma inconsistência com a lógica que usa – que são pessoais e imateriais – sem se saber muito bem o que significa isto.

Craig chega à conclusão que é Deus porque somente duas coisas cabem na descrição de causador, que ele inventou:
1 – objectos abstractos como números
2 – ou uma mente inteligente

Os objectos abstractos não podem causar nada logo só pode ser deus. Ou seja, uma mente pessoal e transcendente. É evidente que depois de Craig ter manipulado a ciência e depois inventado uma lógica simplista só seria possível chegar a uma conclusão. Irónicamente essa conclusão tem de se sustentar não em lógica mas somente… em fé. Craig confunde competição de escrita criativa com discursos sérios sobre ateísmo.

13 comentários:

  1. Excelente análise.
    Chega a ser triste, para não dizer patético, os evangélicos como o Craig continuarem a tentar provar racionalmente a existência de Deus. E mais triste ainda é o facto dos crentes que compram os livros dele serem incapazes de detectar as falácias lógicas e pressupostos infundados, simplesmente porque não os querem ver. Eles só procuram "provas" da existência de Deus, nunca o contrário.

    Confesso que gosto particularmente de os ver tentar usar a autoridade da Ciência para dar credibilidade aos seus argumentos contra a Ciência. É como dar um tiro no pé.

    Por outro lado, já não posso ouvir a parvoíce de que o Universo não pode ter vindo do nada (só porque sim), quando um Universo vindo do nada é exactamente o que a religião defende. Dizer que Deus é a primeira causa não resolve nada, pelo contrário, só complica desnecessariamente a questão: Qual Deus? Porquê Deus e não antes um nariz gigante que nos espirrou até à existência? Quem criou Deus? etc; E é nesse momento que normalmente entra em acção a "lógica da batata" dos crentes e o seu rol de pressupostos impossíveis de provar: "Ah! Deus não precisa de início, Ele é o alfa e o ómega, Ele está fora do espaço-tempo, escondido na sua sala de pânico pan-dimensional, longe do alcance dos malvados cientistas ateus que tentam provar a sua não existência". É aquela clássica história de Carl Sagan e do Dragão invisível na garagem. Dragão que até pode ser real, mas que ninguém consegue provar pois a afirmação é feita de propósito para ser impossível de testar. Isto não é Ciência, não é Filosofia, é simplesmente parvoíce.

    Por enquanto, um simples e humilde "não sei" é sem dúvida muito melhor do que tentar preencher as lacunas do nosso conhecimento com o conto de fadas que mais nos apela. A lacuna há-de ser preenchida à medida que a Ciência avança.

    A propósito do "Universo a partir do nada", esta palestra de Lawrence Krauss é bastante interessante http://www.youtube.com/watch?v=7ImvlS8PLIo

    Abraço!

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  2. Eu sou sincero. Não compreendo como as pessoas aceitam este tipo de argumentos religiosos nem compreendo como existem tipos, como o Advogado, com pachorra para estar sempre a escrever sobre isto. Gostava mais de ti quando nos conhecemos há uns anos. hehehehe Menos intelectual e mais maluco. hehehe

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  3. Boas Skynet ainda não tive opurtunidade de ver a palestra mas fica prometido que a irei ver com toda a atenção.
    Surfamos a mesma onde Skynet, também acho impressionante a incapacidade de alguns crentes de reconhecerem a pobreza dos argumentos de Craig. Mais ridiculo ainda é pensarem que ganharam o Nobel quando ouvem estes argumentos. hehe Alguma coisa de muito errado deve estar no nosso sistema de ensino.

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  4. Dom Juan
    nem todos os homens ficam com o cérebro bloqueado na adolescência. hehehehehe
    Como é que costumas dizer... incha.

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  5. dom juan, o problema é que o advogado é um crente, crê piamente (não conheço o termo ateu equivalente) que Deus não existe, e a sua mente pia louvores à deusa única, a ciência, ou seja é monoateísta

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  6. Não é verdade.
    Devo admitir que o meu caso é um pouco sui generis (não sei se também é genérico! hehe).
    Acreditar em Deus - ou algo a que se possa chamar Deus seja isso uma ideia que console ou o conjunto das leis físicas que nos rejem - eu acredito.
    Só não acredito no Deus ridiculo das religiões. O Deus omnipotente e tudo o mais que ora se comporta como um psicopata ora se comporta como o mais incompetetnte dos seres.
    Acima de tudo não se discute Deus mas sim a ideia que a pessoas fazem Dele... no fundo não passa disso mesmo: uma discussão de ideias.
    E para mim a ciência não é uma deusa. É sim, uma forma de pensar. É diferente.
    abraço

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  7. muito bem ... plenamente de acordo ... isto deixa-me preocupado; 'péra, plenamente não, o seu caso nem é sui generis nem genérico, longe disso; e qd se fala de religiões a ciência é uma deusa sim, pq há quem assim a veja, tá cientificamente provado, tá tudo dito

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  8. Em que medida a ciência é uma religião?

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  9. v. continua a fazer a saudação nazi - antes de responder vou imprimir a foto e vomitar em cima dela - pronto, já vomitei;
    pois o q eu quis dizer, barato adolf, foi q a ciência parece ser uma religão para aqueles que acham que "tá cientificamente provado, tá tudo dito"; claro q (ainda) não o incluo entre esses religiosos extremistas, mein führer, mein o clho; parafraseando o meu escritor favorito, ora foda-se

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  10. "Craig consegue mesmo definir características da causa do Universo. Baseado em que factos científicos? Baseado em que provas? Nehuma. Zero. Nada. Népias."

    Essas características são óbvias, a causa tem de ser imaterial (pois se existe algo material já faz parte do universo), atemporal (não havia tempo),

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  11. Boas Caim
    Por acaso existe algum erro de análise no que escrveste.
    É que tanto quanto sabemos o universo pode ter tido origem no buraco negro de outro universo. E esse outro universo tem de ter matéria (como é que se formaria o buraco negro?).
    Também pode etr sido criado por algum extra-terrestre de outro universo. Esse extra-terrestre, tanto quanto sei poderia até ser mais denso que nós.
    Quanto ao tempo, ele tem lógica no nosso universo. Mas caso o nosso universo tenha tido origem noutro universo esse outro universo também deve ter tempo.
    Portanto continuo a querer saber que tipo de provas é que Craig tem para sustentar todas as caracteristicas do suposto criador do universo! Lábia barata ele tem. Provas é que é mais dificil!

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  12. @Advogado

    Mesmo assim, é impossível retroceder as causas infinitamente, pois se assim o fosse não haveria tempo para chegar a esse momento (seria necessário um tempo infinito também e não dispomos disso), portanto o primeiro universo a ter surgido, e por universo me refiro a qualquer conteúdo (se há matéria, há universo), este universo tem de ter sido criado por algo que transcende a matéria (imaterial), e como o tempo está ligado ao espaço (espaço-tempo) é necessário que também seja "atemporal". Como é necessário um agente causador primário, pois não há como retroceder infinitamente, ele tem de ser incausado.
    Imaterial, Atemporal e incausado são qualidades presentes num ser metafísico.

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  13. Boas Caim
    Infelizmente a tua argumentação está errada.
    Em primeiro lugar não sabes se é possível retroceder infinitamente ou não.
    Em segundo lugar assumes como verdade que o Universo tem de ter um agente causador.
    Em terceiro lugar assumes que esse causador é Deus.
    Tu assumes coisas que não tem de ser para assim tentares validar este argumento.
    Tanto quanto sabemos o Universo pode ter surgido sem ser causado. Nem tudo o que existe precisa de um agente causador primário.

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