terça-feira, 14 de julho de 2009

Como se escolhem os médicos?

Recentemente falei com uma amiga que é técnica de saúde, num hospital português. Falou-me do caso de um médico que decidiu seguir uma determinada especialidade porque era mais calminho e não tinha de passar tanto tempo com os doentes. Não tenho dúvida que este médico era um excelente aluno do secundário e que terá sido um excelente aluno em Medicina (pelo menos nas teóricas), mas que raio de médico vai ele dar, quando não gosta de estar com pacientes? Como é que se permite entrada nas escolas de Medicina, de pessoas que não gostam de estar com doentes?

A verdade é que os nossos médicos são seleccionados pela sua média do ensino secundário e não pela vocação que sentem para a carreira. Conheci outro exemplo, de uma aluna brilhante do secundário, que foi para Medicina, porque queria ser alguém na vida. Para os portugueses, o sonho está basicamente limitado a ter um estatuto para se sobrepor aos outros. O pai desta médica, era um bate-chapas, com oficina própria e que sempre lhe deu uma vida com todo o tipo de conforto.



Venham a ser bons ou maus médicos, eles nunca foram escolhidos pela vocação pela profissão. Eles nunca seleccionaram a profissão pela vontade de acompanhar um doente, pelo desejo de diminuir o sofrimento, pelo sonho de aliar conhecimentos técnicos a uma abordagem humanista. Que tipo de humanismo médico podemos esperar, quando os médicos procuram a medicina pelo estatuto? Quando o seu desejo não consiste em ajudarem os outros mas sim em eliminar aquela sensação de se ser sub-humano? Não será a procura de um estatuto “superior” uma finalidade oposta à procura do diálogo com o paciente?

A verdade é que a Ordem dos Médicos está mais preocupada em ter alunos de médias gigantes, independentemente da sua capacidade para lidar com os problemas diários da profissão. As médias do secundário podem ser relevantes, na medida, que oferecem informações (nem sempre fidedignas) da capacidade intelectual do aluno. Mas nada dizem sobre a sua capacidade comunicativa, pela sua abordagem humanista ou pela sua capacidade de se adaptar a novas situações. Restringir a selecção de médicos às notas do secundário é reducionista e incompetente.

No entanto, parece que algumas coisas começam a mudar de rumo. No Algarve, abriu uma nova Faculdade de Medicina, com vagas somente para licenciados noutros cursos de saúde. Independentemente das divergências entre esta Universidade e a Ordem dos Médicos, houve algo que o director da nova instituição referiu e que me chamou a atenção. Ele definiu os traços essenciais que se pedem a um médico:

1 – capacidade intelectual acima da média;

2 – saber comunicar;

3 – enfrentar situações inesperadas;

4 – conseguir executar tarefas práticas.

Não sei qual destas é a mais importante. Para um médico de família, provavelmente, a capacidade de comunicar é mais importante, enquanto conseguir executar tarefas práticas deve ser particularmente relevante para médicos cirurgiões. Não sabendo qual destas é a mais importante, sei, contudo, que quase nenhuma é usada na selecção dos futuros médicos.

A capacidade intelectual acima da média é usada. Mas é usada somente para uma forma específica de avaliação. Na realidade, muito dificilmente, o nosso sistema de ensino está adaptado para saber explorar correctamente todo o potencial intelectual dos seus alunos. De qualquer forma, alunos que acabem o secundário com médias de 19 são evidentemente bastante dotados. A única coisa que eu não duvido é que todos os alunos de medicina são particularmente dotados no que concerne à sua capacidade intelectual.

A capacidade de saber comunicar, no entanto, é quase nula. E isto é válido, inclusivamente para psiquiatras, cuja noção em ouvir os pacientes consiste em administrar fármacos que o façam calar-se. O médico, na maior parte das vezes, só sabe comunicar de um forma: dar ordens e fazer comentários parvos porque acha que a sua posição hierárquica lhe dá esse direito. Os médicos não são seleccionados pela sua capacidade de comunicação e, na maior parte das vezes, nem lhes é passada essa capacidade de comunicação.

Os últimos 2 traços também não são avaliados. Acontece que ao longo do curso se esperam encontrar alguns alunos com estas capacidades de forma a serem aproveitados para determinadas especialidades, como Medicina Interna. Alunos que não possuem nenhuma destas qualidades podem afundar-se em especialidades médicas que existem para limpar a escumalha como Médicos nuclearistas ou radiologistas. A recente acupunctura médica deve ser mais uma especialidade para onde se possa enviar mais um pouco de lixo.

Aqueles que não têm realmente jeito para Medicina procuram especialidades como a Medicina Nuclear, Radiologia ou Radioterapia. Na Radiologia ou Medicina Nuclear estão bastante confortáveis, uma vez que se limitam a escrever relatórios, pedir cafés aos técnicos e pouco mais que isso.

Este novo curso selecciona os alunos não só através da Média (insuficiente para entrar em Medicina) mas também através de testes intelectuais, testes de personalidade e em minientrevistas. Obviamente, a Ordem dos Médicos, apresentou algumas reclamações. Mas enfim, os maus da fita têm de fazer sentir a sua presença. A minha questão é simples: quanto tempo falat para começarmos a usar métodos mais objectivos, mais concretos, de acordo com as características que um médico deveria ter?

2 comentários:

  1. esta crónica tarda nada faz um aninho; e q bem escrita, e q excelentes pontos de vista; ñ posso estar mais de acordo, parabens; qto ao "tempo q falta até q", calcule pelo tempo q falta até v. ser min. da saúde
    ps: detesto concordar, gosto mais de contradizer, mas aqui ñ posso, desculpe, sim?

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  2. Estás desculpado Abel. Mas só desta vez. rsrsrsrs
    Na realidade até estava a pensar fazer algumas pequenas alterações ao texto porque acho que está muito agressivo em determinadas partes. Ando numa fase mais calminha.... rsrsrsrs
    abraço

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