quinta-feira, 2 de julho de 2009

Pensando em Onan: implicações na actualidade

Já aqui escrevi uma sátira sobre a masturbação. A lógica deste artigo não é satirizar mas sim fazer-nos pensar. A Igreja defende que a masturbação é proibida baseada numa história do Antigo Testamento. Pessoalmente acho ridículo que as pessoas condicionem tanto a sua vida e a sua moralidade em textos escritos por povos ignorantes e extremamente atrasados. De qualquer forma, algumas pessoas levam a sério esses ensinamentos e procuram segui-los no seu dia a dia.

O que originou tantos problemas com a masturbação foi a história de Onan (daí o termo onanismo). Consegui encontrar este excerto bíblico, no Google, que descreve a história(1):

"6 Judá, escolheu para Er, seu primogénito, uma esposa chamada Tamar. 7 Er, primogénito de Judá, desagradou ao Senhor e o Senhor feriu-o de morte. 8 Então Judá disse a Onan: "Casa com a mulher do teu irmão, como manda o levirato e dá uma posteridade ao teu irmão." 9 Mas Onan compreendeu que essa posteridade não seria a sua e, quando se aproximava da mulher de seu irmão, derramava no chão o sémen a fim de não dar posteridade a seu irmão. 10 A sua conduta desagradou ao senhor, que também lhe deu a morte. 11 E Judá disse a Tamar, sua nora: "Conserva-te viúva na casa de teu pai até que meu filho Chela cresça." Judá, porém, temia que ele também morresse como os irmãos. E Tamar foi morar para casa de seu pai."

Ao lermos o texto verificamos que não é expressa a lei de Deus de proibir a masturbação. Na realidade, não creio que exista uma parte da Bíblia que proíba a masturbação. Onan é castigado por derramar sémen no chão quando se "aproximava da mulher". Muito provavelmente este texto nem fala de masturbação mas sim de coito interrompido. O "castigo divino" poderá ter sido induzido pela violação da lei tradicional do irmão mais novo garantir a descendência do irmão mais velho caso este morresse. Isto levanta várias questões que as pessoas mais religiosas deveriam ponderar, caso decidam aceitar viver de acordo com estas crenças da pré-história humana.

Em primeiro lugar não passa pela cabeça de ninguém de obrigar o irmão mais novo a casar com a mulher do irmão mais velho, caso este morra e não deixe descendência. Mas no Antigo Testamento esta lei era extremamente importante. Isto, pelo menos, fala-nos da seriedade que a Igreja dá às suas crenças.

Em segundo lugar, como observado, este texto nada tem a ver com masturbação, mas sim com coito interrompido. Também não há nenhuma lei no Antigo Testamento que impeça o coito interrompido, mas se quiséssemos pegar nesta história, então a Igreja teria de explicar a razão pela qual proibiu a masturbação e apoiou o coito interrompido, em particular nas discussões sobre aborto e o uso de preservativos.

Em terceiro lugar, caso fosse mesmo proibido o desperdício de sémen, os padres teriam de analisar melhor a sua posição relativamente à abstinência sexual. O crime vem do facto de não se usar o sémen para motivos procriativos. Se assim fosse, então, a masturbação, o coito interrompido e a abstinência sexual seriam crimes aos olhos de Deus. Sejamos honestos: desperdiçar ou não usar vai dar ao mesmo no que concerne à velha máxima de "crescei e multiplicai-vos".

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) http://www.godsplanforlife.org/O%20Plano%20de%20Deus%20para%20a%20Vida/Chastity%20and%20Onan/Onan%20Account%20Portuguese.htm

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