quinta-feira, 16 de julho de 2009

Obama e África

Obama continua o seu périplo pelo mundo fora. Tem usado uma fórmula, bastante eficaz na estimulação do diálogo entre os diferentes actores internacionais.

No médio oriente chamou a atenção para um diálogo mais construtivo onde os líderes árabes não tivessem medo de falar de Israel nem do Irão, um diálogo que aproximaria o discurso público com o discurso privado e acima de tudo um discurso assente na liberdade de expressão de todos os pontos de vista envolvidos: uma abordagem honesta e transparente dos principais problemas da região, dos receios prevalentes dos povos locais.

Na Rússia procurou acalmar os ânimos frios do Kremlin, face às políticas norte-americanas, com um discurso de aproximação, mas nunca abandonando a sua retórica a favor da democraticidade russa. Pedindo uma Rússia forte e pacifica e procurando abrir forma de diálogo com uma Rússia menos dominada pelos conceitos da guerra fria e mais disposta a aceitar a soberania dos seus antigos satélites.

Agora chegou a África e falou da necessidade da criação de instituições fortes. O discurso de Obama, em África, segue a mesma fórmula usada em todos os outros locais visitados: mostrar que a culpa do problema não está somente numa pessoa, ou país, mas que existe em todas as pessoas. Mostrar que se queremos que as coisas melhorem, nós também temos de melhorar.

Em África este discurso terminou com um apelo aos africanos para lutarem por instituições mais democráticas. Ao colocar as instituições acima de pessoas particulares, apelou aos africanos para abandonarem um seguidismo populista que protege ditadores e procurarem antes instituições que sirvam todos, que sobrevivam ao individuo mantendo a coesão e sustentabilidade do tecido social. Ao fazer isto tocou no problema interno, mais grave de África: a corrupção política e económica.

No entanto, Obama corre o risco de entrar em areias movediças. É que o problema africano não é somente um problema interno. Muitos dos seus problemas são provocados pelas grandes potências mundiais (ocidentais ou não) e outros não são provocados mas são mantidos.

As reformas ambientalistas impõem um custo muito grande aos países de 3º mundo aumentando a sua pobreza. Existem reformas económicas necessárias para se reabilitarem as economias africanas: uma delas, de extrema importância, consiste em eliminar as barreiras aduaneiras aos produtos africanos, nos países industrializados. Na Europa, uma Vaca tem um subsídio diário superior ao de 200 milhões africanos. Liberalizar e permitir condições de competitividade igualitárias aos países africanos iria permitir eliminar mais de 150 milhões de africanos da lista dos mais pobres. O aumento da riqueza poderia ajudar a criar instituições democráticas fortes. Pelo menos seria um incentivo maior que a pobreza generalizada. Estará Obama disposto a defender políticas económicas que não são apelativas para os seus eleitores ou para os eleitores dos países europeus? Como irão aceitar os líderes europeus estas politicas?

E como tratar do problema da venda de armas? 85% das armas vendidas em África são produzidas pelos G8. O único país do G8 que não vende armas em África é o Japão. Os EUA são o maior produtor mundial de armas. Imensos países africanos usam as ajudas externas, provenientes dos países ricos, para comprar armas aos países que emprestaram o dinheiro em primeiro lugar. O que pretenderá Obama fazer em relação a isso? Qual a capacidade de mobilizar outros actores internacionais, como a China, de forma a alterarem a sua política relativamente a África?

Outro factor a ter em conta é a protecção económica e política de que a grande maioria dos ditadores africanos gozam junto das potências ocidentais. Os nossos bancos aceitam o seu dinheiro e estimulam a corrupção política. Isto é feito à vista desarmada e ninguém faz nada para impedir. Que tipo de politicas bancárias iremos realizar de forma a acabar com a corrupção política? Vamos acabar com os offshores? Ou os bancos suíços irão deixar de abrir contas a ditadores africanos?

É mais fácil para Obama acabar com o conflito israelo-palestiniano (o que não significa que o consiga) do que acabar com o pobreza de África. Acabar com a pobreza em África significa ter a capacidade de colocar o mundo a trabalhar como um só. É ter a capacidade de permitir políticas ambientalmente provocadoras e socialmente explosivas, sem colocar em causa essas reformas.

Permitir o uso generalizado de DDT para combater a malária, congelar contas de ditadores, impor sanções a países que comercializam armas ou protegem traficantes de armas, acabar com os subsídios aos produtos ocidentais dando mais competitividade aos produtos africanos, patrocinar movimentos pró-democracia em várias partes de África, investir no fortalecimento de instituições democráticas já existentes, passar tecnologia de ponta e know How, acabar com as politicas do FMI de obrigar os africanos a pagarem pelos estudos dos seus filhos quando mal tem dinheiro para comer, etc…

Tudo isto são políticas necessárias para se acabar com a pobreza africana. Não basta dizer aos africanos para lutarem contra a ditadura quando essa ditadura é abastecida com as melhores armas dos países democráticos (assim como os rebeldes que se opõem a essa diatdura!). Não basta dizer para investirem na agricultura quando os produtos agrícolas nunca serão comercializáveis. E não basta dizer para se defender instituições e não pessoas quando a maioria dos africanos pode nem compreender esse tipo de discurso e são pobres demais para investirem na educação necessária para usufruírem de instituições competentes e democráticas.

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